segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Três Porquinhos e o Leopardo

Ao ver os três indicados para a Equipe Econômica, parece estranho, mas veio um deja vú: por esta época, nas semanas que antecederam sua ascensão ao cargo quatro anos atrás, Dilma sacou da fábula dos Três Porquinhos para se referir aos seus tenentes da transição: Antônio Palocci, José Eduardo Dutra e José Eduardo Cardozo. Seis meses depois só Cardozo ainda se mantinha em combate - ainda que fazendo suas porquices no Ministério da Justiça. Dutra virou um aspone muito bem remunerado na Petrobrás em reconhecimento às porcarias prestadas na primeira campanha de Dilma como presidente do PT. E Palocci... bem, Palocci foi tratar de multiplicar seu patrimônio.
Os tempos atuais são mais bicudos. A candidata que alertou que os tucanos quebraram três vezes o país e que Aécio traria arrocho, juros altos e desemprego ficou na foto das urnas eletrônicas no fim de outubro. 
Mas, por outro lado, a candidata que vociferava que daria plena liberdade às investigações na Petrobrás - como se tivesse este poder... também ficou na foto. Em muitos aspectos este governo é uma continuação. Apesar de Kátia Abreu na Agricultura, Gilberto Carvalho irá cuidar das questões indígenas, além de continuar cuidando de ser os olhos de Lula no Planalto. O PMDB continuará com alguns cargos-chave nas estatais. Não há nem sinal de se diminuir o número de cadeiras ocupadas neste ministério sucupirense.
Depois de doze anos de lulopetismo, essa manobra na indicação, principalmente de Joaquim Levy, cheira mais a instinto de sobrevivência que a plano de governo. Dilma jamais os chamará de "porquinhos" ainda que tenha vontade disso no caso de Alexandre Tombini, que continua no Banco Central. O bicho da vez nem é o Lobo, mas quase: trata-se do Leopardo.
Filme basilar na cinematografia, "O Leopardo", de Luchino Visconti, conta a história do príncipe das Duas Sicílias que tenta resistir ao processo de unificação da Itália. Não, eu não direi da famosa epígrafe do filme, a que diz que "as coisas precisam mudar para que continuem na mesma". Mas sim de um diálogo entre o Príncipe e um enviado do novo regime. Ele diz ao Príncipe: "Este estado de coisas não vai durar; a nossa administração, nova, ágil, moderna, mudará tudo”. Ao que o Príncipe responde:“Tudo isso, pensava, não deveria poder durar; mas vai durar, sempre; o sempre humano, é claro, um século, dois séculos…; e depois será diferente, porém pior. Nós fomos os leopardos e os leões; os que vão nos substituir serão pequenos chacais, hienas; e todos, leopardos, chacais e hienas continuaremos a crer que somos o sal da terra”.
Dilma nem o PT seriam tão densos, mas são igualmente movidos por puro orgulho, sede de poder e desprezo por tudo e todos que não comungam de seu credo. Longe deles enxergar qualquer espírito de tempo para além de suas ambições.