terça-feira, 19 de junho de 2012

A Interpol é imperialista!!!

O Ministério das Cidades foi criado por Lula, já no primeiro mandato. O primeiro a chefiar a pasta foi Olívio Dutra, que havia perdido a eleição de governador no Rio Grande do Sul. Foi o início da prática lulista de aquinhoar com ministérios companheiros que tomaram tunda nas urnas. Foi também a última vez que o PT esteve à frente do ministério. Dois anos depois ele seria entregue a Márcio Fortes, do PP, partido de Paulo Maluf. Conclui-se que o PP está no governo petista desde 2005, via ministério das Cidades, atualmente com Aguinaldo Ribeiro.
Não é de hoje, portanto, a aliança dos petistas com os pepistas. Não é de hoje que é algo esquisito - o fato de ser uma aliança antiga não a torna menos estranha, pelo menos numa primeira análise.

O PP é um partido cujas origens remontam ao PDS, que por sua vez é descendente direto da ARENA, partido que dava suporte à ditadura militar. O PDS começou a se esfacelar na sucessão do presidente João Figueiredo, quando José Sarney, então presidente da legenda, renunciou ao cargo a fim de apoiar Tancredo Neves. Uma turma grande do partido se desligou, para fundar o PFL, que depois viria a se chamar Democratas, ou DEM. O PDS foi perdendo força com o tempo, passando a contar com lideranças regionais, como Esperidião Amin e Paulo Maluf. Foi se fundindo a outros partidos e mudando de sigla, sendo chamado de PPR, PPB e finalmente PP, remontando ao antigo PP, que teve como quadros Magalhães Pinto, Milton Campos, Petrônio Portela e... Tancredo Neves.

A aliança PT-PP já dera suas caras na última eleição para prefeito, quando Paulo Maluf declarou seu apoio no segundo turno a Marta Suplicy. Foi um apoio meio constrangido de ambas as partes, no fim ofuscado pela derrapagem marqueteira de Marta ao sugerir no horário gratuito a homossexualidade de Gilberto Kassab. Mesmo quando Mário Negromonte foi defenestrado do Ministério das Cidades após reportagem da Veja, poucos pararam para contemplar o esbulho que representava esta aliança e o Ministério continuou com o PP.

O escândalo mesmo veio com a foto de Lula e Maluf congraçados num belo jardim, observados pelo o olhar servil de Fernando Haddad. A foto rendeu um minuto e meio no horário gratuito para o PT e rendeu a Maluf uma indicação para a Secretaria de Saneamento, dentro do dito ministério. Esta Secretaria tem como competência cuidar do esgoto. Estaria em boas mãos se o intuito fosse manter e até aumentar o esgoto a céu aberto.

Além das reações indignadas, é divertido ver a reação de alguns petistas exaltando Maluf. Falta ver a reação dos malufistas exaltando Lula, mas pelo menos até agora têm demonstrado louvável coerência e se mantido quietos. Do que entendemos, pouco importa os votos dos Malufistas. O cerne foi mesmo o tempo de TV.
Mas, e os esquerdistas "puros", ainda crédulos dos ideais petistas do tempo de sua fundação, no ABC? Para eles foi oferecida Erundina, que diante das novidades pode achar que é demais - como o PT achou que fosse demais ela integrar o governo de Itamar, motivando sua expulsão do partido. Se naquele tempo ela propusesse uma aliança com Maluf, ganharia a forca.

Mas para grande parte da militância tá valendo. Maluf passou a ser o cara. Sem essa de ser fichado na Interpol, tem um monte de gente que é. Além do mais, é questão de tempo para, como bem lembra o jornalista Sandro Vaia, alguém da blogosfera progressista aparecer para acusar a Interpol de ser um braço armado da repressão imperialista...

sábado, 16 de junho de 2012

A voz do Brasil

Eu trabalhava com resgates em julho de 2007. Mais precisamente no dia 17. Passava das dezenove horas quando recebemos um chamado para transferir um paciente psiquiátrico que se encontrava no Hospital do Jabaquara. Rumamos para o dito hospital com a sirene ligada.
Foi quando percebemos algo estranho: quanto mais próximos estávamos do hospital, mais os carros abriam caminho. Ostensivamente, alguns subindo nas calçadas, as motos parando os cruzamentos, os pedestres nos olhando com cara de aflitos. Dos bares as pessoas saíam para nos espiar, os marronzinhos da CET faziam gestos enfáticos para que passássemos mais rápido. Na entrada do hospital a segurança nos indicava com veemência o rumo da entrada de emergência, onde já nos esperava um séquito de profissionais. Na expressão de todos um grande assombro. Na cabine da ambulância não demos por nós naquela agitação. Por vezes gracejávamos por achar que nos confundiam. Quando paramos, mais surpresa: ligaram um holofote e todos acorreram, como se fôssemos estrelas. O colega médico perguntou com olhos arregalados: "Como está aquilo?". Não entendi lhufas: "Aquilo o quê?". Ele quase gritava: "O aeroporto!!!" Eu temi um linchamento mas perguntei fatidicamente: "Mas o que houve no aeroporto?". O holofote se apagou, o médico virou as costas e o séquito se dispersou em meio a um burburinho de decepção irritada.
Entrando no hospital pudemos ver na TV as imagens que nos tirariam o chão, do avião espatifado no prédio da TAM à cabeceira da pista de Congonhas. De volta à ambulância já com o paciente a ser transferido e saindo do hospital na condição de intrusos minutos depois da recepção de superstars, liguei o rádio por puro reflexo. Então tivemos a explicação de nossa alienação: assim como todos os cidadãos paulistanos e brasileiros que só dispunham da comunicação do rádio em seus veículos naquela hora, nós desligamos o som para não ter que ouvir a Voz do Brasil que seguia firme, ignorante do inferno que a cidade vivia.

Este programa longevo, já se vão mais de 70 anos desde que Getúlio Vargas colocou no ar o então "Programa Nacional", popularizou o ato de se desligar o rádio ou colocar um CD para tocar tão logo se fazem ouvir os acordes de "O Guarani". Mas ainda assim tem gente que o aprova. Saem em defesa dos matutos dos rincões que não têm acesso à notícias e que têm no programa o único meio para se informar. Devem pensar nos jecas, em suas choupanas rurais ouvindo um rádio chiento ligado a uma bateria de carro.
Pode ser desinformação minha, mas essa figura caipira não existe mais no Brasil. E cá pra nós, Getúlio não pensou em informar os jecas quando nos impôs o programa.
Há projetos propondo a flexibilização do horário da Voz do Brasil, de resto conseguida por liminares de algumas rádios. Acabar com esta excrescência ninguém propõe...

Em anos eleitorais, o rádio sofre outra violência, compartilhada com a TV, que é o Horário Eleitoral Gratuito. A parte mais interessante deste "Horário" se dá antes de sua veiculação, quando os partidos saem à praça em busca de minutos de programa e assim colocam almas, ideologias e convicções à venda. O PT acaba de entregar um cargo em um Ministério a um indicado de Paulo Maluf a fim de obter o apoio do PP e a ele se coligar. O objetivo foram os minutos a mais no "Horário" que tal união trará. Se não me engano, o cargo foi para o Ministério das Cidades, não tenho certeza mas isso tem pouca importância - não para mim, mas para o PT.
O PSDB também já envergonhara a militância ao fechar acordo com o PR (que se aboletou nas tetas do Ministério dos Transportes de Dilma) pelo mesmo motivo.

Nem a Voz do Brasil, nem o Horário Eleitoral Gratuito vão sumir. Eu sei.
Mas uma sugestão seria medir o Ibope do "Horário" na TV. Sério mesmo. Quem sabe assim, ao constatarem que uma parcela mínima da população assiste àquela infâmia, eles desistam de se vender por minutos. Quem sabe assim possam se vender apenas por trinta dinheiros. Ou talvez por menos...

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Então... o Marconi decepcionou

- Você viu o depoimento do Marconi?
- Vi por cima, ele matou a pau né?
- Foi igual ao do Agnelo...
- Esse pôs todo mundo no bolso também.
- Você não vê a gravidade disso? Foram dois depoimentos praticamente iguais! Imaginar que um Marconi se sairia tão vergonhosamente de seu depoimento quanto um Agnelo? Nunca! Será que todos são mesmo iguais?
- O que é que você chama de iguais, pelo amor de Deus? Como é que você queria que eles se defendessem? As perguntas eram parecidas, é natural que as respostas também fossem.
- Os dois se enrolaram em negócios de compra e venda de mansões. Os dois desafiaram a CPI com a quebra de seus sigilos. Poxa, a quebra do sigilo do Agnelo está pedida desde o fim do ano passado. Não houve um só lazarento daquela CPI para lembrá-lo disso.
- É provável que assim como a gente, eles não soubessem disso também.
- Como não sabiam? Foram é coniventes, isso sim! Palhaçada... E o Marconi perdeu a chance de se vingar do Lula, porque essa CPI foi uma invenção do Lula para derrubá-lo. Ele deveria ter contado mais daquele encontro em que falou a Lula sobre a existência do mensalão. Ele poderia ter falado mais sobre o Delubio.
- Delubio? De novo? Até quando isso? Rapaz, deixa o Delubio pra lá, isso são águas passadas. Chega, eu hein?
- Foi exatamente isso que o Marconi falou do encontro com Lula: que são águas passadas e não valia a pena comentar o assunto.
- Entendeu a jogada? O Marconi não mexe com Lula, nem com o seu Delubio, e o Lula não mexe com o nosso Marconi. Matou a pau!
- Meu Delubio, como assim, sai pra lá! Cara, eu nem sei mais o que é meu, o que é nosso...
- Mas eles sabem muito bem o que é deles, ah sabem!

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Réquiem para uma palhaçada

Pensando bem, é melhor parar com essa CPI do Cachoeira. Depois dos depoimentos dos dois governadores, de Goiás e do DF, ambos blindados por seus partidos, ambos autorizando abrir seus sigilos bancários, ambos ilesos perante à platéia que os inquiria, ambos dignos dos mais rasgados elogios, é melhor parar por aqui. A única alternativa seria criar uma sub-CPI da Delta. Mas é mais fácil condenarem os mensaleiros, sem ironia.
Na CPI dos Correios vimos um estrago no país que estava em operação, num processo em que se destacavam gente aparentemente de bem, como Delcídio Amaral, ACM Nero, Osmar Serraglio, Eduardo Paes e um tal Demóstenes Torres. Houve um contundente relatório, de Serraglio, que virou livro vendido em bancas. De alguma forma o Brasil celebrava o fim daquela CPI, que culminará com o julgamento do Mensalão a se iniciar agora em Agosto.
Nesta CPI do Cachoeira, o angu parecia ter mais caroço. Houvesse empenho, bastaria que se puxasse o fio do denso novelo de corrupção da Delta.
Decepciona-se com o desenrolar desta CPI aquele que se esquece do seu motivo: foi urdida por Lula e Dirceu para desviar a atenção do julgamento do Mensalão e explodir com um governador do PSDB. Era só pra isso.
Aí deu tudo errado, e a estratégia justificou alcunhar Lula como "aloprado- mor".
Mas, depois que Agnelo nos brindou com sua fala, já se ouve os acordes da missa fúnebre. Ao declarar que pagou por sua mansão 400 mil, sendo que ela vale dez vezes mais, e desafiando as pessoas de bem com a abertura de seu sigilo bancário, poupando os sigilos de sua mãe e esposa, Agnelo escarnece, zomba, faz pouco do povo do Brasil. Sua atual casa foi comprada de Glauco Santos, dono de uma empresa que um tempo depois da compra do imóvel foi beneficiada por Agnelo, na época diretor da Anvisa. A mãe e esposa de Agnelo têm negócios com Glauco Santos. Mas Agnelo acha tudo normal.
Há não muito tempo, um presidente brasileiro foi escorraçado do cargo, dentre outras razões por comprar a Casa da Dinda com dinheiro nebuloso. Hoje isso não comove ninguém. Nem mesmo aquele presidente, que se encontra atualmente na tropa de choque do PT.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Então... com o PR não pode!

- Você soube da última do PSDB? Fechou acordo para ter apoio do PR na eleição de prefeito de São Paulo!
- Deve ser para aumentar o tempo na televisão. Quantos minutos ganharam?
- Um minuto e meio.
- Ótimo, tá valendo.
- Como assim? O PR é o partido que loteou o Ministério dos Transportes, com Alfredo Nascimento liderando a corja! Tem gente como Valdemar da Costa Neto, um dos mentores do Mensalão... Tudo isso por causa de 90 segundos?
- O PR é o partido de Tiririca, ele pode puxar votos.
- Mas que beleza, hein? Serra dependendo de Tiririca para ter votos...
- Não foi isso que eu disse, não coloque palavras na minha boca.
- Não é certo, não é honesto, não é coerente, isso mancha a história do partido. Se Covas fosse vivo...
- Covas aceitou a aliança com o PFL, depois DEM. Na época, o PFL era um PR da vida.
- Aceitou nada, o vice dele foi o Alckmin. E o PFL tinha bons quadros, alguns migraram para o PSDB. Tinha uma coerência nesta aliança. Mas com o PR? Já pensou um Secretário Municipal dos Transportes do PR?
- Olha, se tem uma pasta que eles não vão querer será essa. Muito pepino, Deus me livre.
- Tem razão, é muito visada, não dá para roubar tanto né?
- Você fala de roubo, de Mensalão, mas está provado que o Azeredo, do PSDB fez um Mensalão em Minas.
- Aquilo era caixa dois! Mensalão nada!
- Uia, é a mesma linha de defesa do PT. Tá virando casaca?

terça-feira, 5 de junho de 2012

Ricardo Lewandowski

O destino armou para Enrique Ricardo Lewandowski. Dizem as más línguas que ele foi indicado para o Supremo por dona Marisa, primeira-dama à época. Seria parente de uma amiga, ou algo que o valha. Examinando seu currículo, percebe-se nitidamente sua aptidão técnica para o cargo. Causa estranheza o fato do douto ministro estar estudando o processo do Mensalão até agora, pelo menos sob o ponto de vista de seu saber jurídico. Como revisor do processo, trocando em miúdos, ele tem como função averiguar se os trâmites foram seguidos certinho, e assim não vai haver advogado de defesa tentando suspender o julgamento, não porque ali se forja uma potencial injustiça, mas porque há um acórdão de 1954 que prevê que sessões não podem ser feitas em dias de chuva, e por isso, só por isso, a integridade de seu cliente está em risco e o julgamento merece ser suspenso. Diante do que temos como advogados de defesa, o melhor mesmo é uma revisão bem revisadinha.
Mas já está demorando demais. Essa demora tende a fazer com que alguns crimes da quadrilha prescrevam. Tende também a fazer com que se aposente um ou outro ministro indicado por FHC, o filho do demo, e assim sobre uma cadeira para mais um indicado pelo PT que será "cosa nostra".
Ricardo Lewandowski, que aproveitou para ir à Suíça mesmo com a entrega da revisão do relatório sendo exigida pelos quatro ventos, talvez queira conscientemente melar o processo.
Sua demora é uma confissão de voto. Melhor dizendo, uma mostra de qual é sua convicção. Deve ser a mesma do relator, Joaquim Barbosa, que define o episódio do Mensalão como ato criminoso de uma quadrilha. Assim é a convicção do Procurador Geral da Repúbilca, Roberto Gurgel, que atuará como promotor no caso. Assim é a convicção, aposto, de todos os envolvidos, inclusive Lula.
Não há razões técnicas, operacionais, logísticas ou mesmo políticas para o adiamento do julgamento do Mensalão. É certo que é ano de eleição, mas fará bem à democracia uma condenação em massa de políticos corruptos, e não o contrário como pensa infelizmente grande parte até da oposição.
Lewandowski não entregou a revisão porque deve concordar com o relator. E por isso não entregará a tempo.
Os crimes prescreverão, mas parece que o objetivo é esse. Soa como se ele não tivesse mais compromissos nem com o povo, nem com o saber jurídico.
Mesmo com todas as convicções, o STF vai, com o perdão do chavão, parir um rato e daqui a algum tempo os petistas ainda baterão no peito dizendo que o Mensalão é invenção da Veja.
Não sei e nem quero imaginar se há algum tipo de ganho por parte de Lewandowski, melhor achar que não.
Caso continue com esta leniência servil, este ministro, que propositadamente adiou  a votação de um dos crimes mais hediondos de nossa história recente até a ponto de invalidar o julgamento, será na prática o maior culpado de todos.