segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Que pais seremos?

"O conservadorismo significa você encontrar uma coisa que ama e agir para proteger isso. A alternativa é você encontrar o que odeia e tentar destruir. Certamente a primeira alternativa é um modo melhor de viver que a segunda."
Roger Scruton

Cuidado com o acento. Não tem. A pergunta é que PAIS seremos, não que PAÍS seremos - até porque este dependerá daqueles. Deixem-me contar uma história pessoal. Na época do vestibular eu não conseguia aprender logaritmos. Pior ainda quando me diziam que aquilo servia para facilitar cálculos. Tive a sorte de contar como companheiros de quarto na preparação para o exame - na época não havia o Enem - gente que entendia do riscado. Queriam prestar para medicina como eu, e hoje são eminentes cirurgiões - um plástico e outro cardiovascular. E ambos nadavam de braçada quando o assunto era logaritmos. Mas nunca conseguiram me ensinar aquele troço. Minha mãe, engenheira, dentre as muitas decepções que certamente desmentirá que teve comigo, teve a de não me conseguir ensinar o raio do logaritmo. Tive duas semanas de aulas particulares e o professor finalmente achou por bem me ensinar modelos de problema que poderiam cair nas provas para que eu os decorasse. Bom, o fato é que passei na prova.
A coisa boa com essa edição do Enem foi o fato de percebermos que nossa preocupação deverá ir para além dos logaritmos. Já está na hora de parar de responder questões de humanas para agradar ao professor comuna. Se eu pudesse responder às questões de matemática sob esta óptica, teria menos terror na hora da prova.
Claro que as ciências ditas "exatas" possuem mais tangibilidade nas respostas, mas o que vimos nas avaliações foi este mesmo conceito levado para as questões de "humanas". Quando o assunto for história, geografia, português (que para mim é ciência exata, notadamente quando cortejado com o latim, mas deixa pra lá), há que se ter uma maleabilidade que as alternativas propostas nas provas não mostravam. O que se via era uma clara lavagem cerebral.
Corta para outra experiência pessoal - se os irrito, me perdoem. Eu era presidente do grêmio estudantil do Colégio Anglo, de Ribeirão Preto, em meu segundo colegial, quando fui dar um recado qualquer em uma classe. Bati na porta, interrompi a aula e o professor assim me saudou: "Eis aqui um aluno que seria perseguido na época da ditadura, só porque preside um grêmio estudantil. Pode falar, companheiro!" Eu me lembro que depois dessa saudação me deu um branco e a sala caiu em risos. Para me recuperar, tive que dizer "eu acho que não ia ser preso não, professor!", ao que ele respondeu, "então fala, pelego!" Mais risos da turma.
Esse monopólio da virtude contido em ser de esquerda; essa relativização das ditaduras sanguinárias russas, chinesas, cubanas e afins; essa cristianização do Che Guevara, essa história de não sabermos as histórias dos Gulags e do Holodomor, essa desvirtuação até da guerra do Paraguai - uma versão criminosamente vendida aos nossos filhos, sem falar da forma em que nos foi apresentada a história da ditadura militar aqui no Brasil, tudo isso somado nos lavou os cérebros.
Temos hoje vergonha de contestar.
Temos vergonha de ser de qualquer posição política que não de esquerda, a ponto de sermos uma democracia imensa, sem ter um partido que possa bradar que é de direita.
Nossa obrigação vai ser formar nossos filhos, pois seus professores de humanas tendem a saudá-los como revolucionários, como eu fui saudado - e ai de nossos meninos se contestarem tais fatos. Vamos ter que atuar nas escolas e em casa.
Apresentar Monteiro Lobato, Machado de Assis, Julio Verne, Flaubert, Cervantes, Camões. Mas mostrar também Hayek, Ayn Rand, Ortega e Gasset, Olavo de Carvalho, Roger Scruton, José Guilherme Melchior, Mises, e outros. Falar deles na hora do almoço, na reunião de pais, pegar as questões de prova, discutir com os professores. Mostrar que a virtude não está na luta de classes, mostrar a imensa incoerência de quem mata em nome de um pretenso humanismo. Mostrar que devemos lutar por um estado que nos deixe crescer e que aja como regulador das ações das pessoas e não como determinante.
Não se trata de formar uma geração de reacionários (aqui em casa formaremos dois, com orgulho), mas de uma geração com verdadeira visão crítica. E isso se pode ter apenas mostrando várias vertentes da mesma moeda.
Por questões genéticas, eu acho realmente que meus filhos entenderão facilmente de logaritmos - a mãe é craque em exatas. Pois muito bem que assim seja. Mas vão ter que me explicar também o que entenderam de "A revolta de Atlas" e de "O caminho da servidão".
Cá pra nós, terão tarefa bem mais fácil que a minha na idade deles. Mas muito mais necessária para si e para o país em que viverão.