sábado, 16 de novembro de 2013

Maneiras rasgadas e francas

Vendo a reação dos mensaleiros José Dirceu e José Genoíno ao se entregarem à polícia, ocorreu-me um trecho de um conto de Machado de Assis chamado "O Lapso". Ele cita uma teoria de Charles Lamb, um ensaísta inglês, que dizia haver "duas grandes raças humanas - a dos homens que emprestam e a dos que pedem emprestado. A primeira contrasta pela tristeza do gesto com as maneiras rasgadas e francas da segunda."
Estes senhores tomaram emprestado não só nosso dinheiro. Tomaram também, a fundo perdido, muito do nosso respeito pela política. O principal argumento dos petistas empedernidos para se defender do mensalão é que "todo mundo rouba". Devem achar que atirar lama os defende de alguma coisa. Não vão descansar enquanto o suposto "mensalão Tucano" não for completamente julgado. Chamei de suposto para manter a coerência, visto que o mensalão Petista foi chamado de suposto até ser confirmado pelo STF. Já houve, aliás, uma condenação, neste que se configura como um rascunho muito bem urdido do que viria a ser o mensalão Petista, tanto na operação quanto na atuação da justiça: Nélio Brant, ex-diretor do Banco Rural, foi condenado a nove anos de cana, mas recorre em liberdade. Como a denúncia se deu antes do esquema petista, este processo envolvendo a campanha tucana se mostra com um desenrolar mais lento ainda. Bonito de se ver é a petezada reclamando da lentidão. Citemos Lewandovski: "Estamos com pressa de quê?"
Cinismos a parte, o julgamento da ação penal 470 caminha para seu cabo deixando um rastro de justiça. Levou um tempo imenso. Deu-se ampla voz ao contraditório. Respeitaram os ditames regimentais e até os nem tão regimentais assim - caso dos embargos infringentes, que foram aceitos para os crimes de formação de quadrilha, mas não para os de corrupção. Deixou-se claro, claríssimo, que aquela corte não se vergaria ao grito (grito?) das ruas.
Mas a sensação é mais de melancolia que de redenção. Melancólico ver o PT jogar sua história no lixo e adotar ladrões de estimação. Nem o DEM fez isso com Demóstenes Torres. Melancólico perceber a chance que foi perdida. Que o que sobrou do governo Lula foi uma presidente que mal sabe falar, enredada num ministério de bufões, mas que será melancolicamente reeleita. Melancólico ver que ainda tem gente que acredita que mesmo com a prisão de seus principais e mais próximos "companheiros", Lula não devia saber de nada.
Comemorar quando a Justiça faz justiça é coisa de república de bananas. Deixemos a festa com os "guerreiros do povo brasileiro". Que ergam os punhos e peçam julgamento - sempre para os outros. A nós restará a tristeza. A tristeza dos que emprestam.
Somos de outra raça. Ainda bem.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Reconsidere, Dr Alexandre

"Se alguém o ferir na face direita, ofereça-lhe também a outra.(...) Se alguém o forçar a caminhar com ele uma milha, vá com ele duas."
Evangelho segundo S. Mateus 5, 39-41
 
 
  No filme Spartacus, com Kirk Douglas, há uma cena emblemática: os escravos revoltosos, finalmente acossados pelos soldados romanos, escutam o brado do centurião: "Quem de vós sois Spartacus?" O líder da revolução escrava ainda titubeava quando viu um dos seus se levantar e gritar "eu sou Spartacus!" Não deu muito tempo para reação, pois logo outro acorreu "Mentira! Eu sou Spartacus!" e mais outro "Eu sou Spartacus!" e um após outro se levantaram e logo o grupo gritava em uníssono "Eu sou Spartacus!", enquanto o verdadeiro permanecia calado.
 
  Logo depois do voto de Celso de Mello, o blog de Marcelo Centenaro lembrou um discurso proferido por Joseph Brodsky, onde nos explica claramente que o real sentido daqueles versículos do Evangelho de Mateus nos incitavam não à humildade mas sim à resistência. E o melhor caminho para tanto é o individualismo, "alguma coisa que não possa ser compartilhada, como sua própria pele, nem mesmo por uma minoria". Pois o Mal, ele deixa claro, "tem loucura pela solidez. Ele sempre procura os grandes números, o granito confiante, a pureza ideológica, os exércitos bem treinados." Acertadamente ele presume que a atração do Mal por estas coisas "tem a ver com sua insegurança inata." E chega certeiro ao diagnóstico sobre as razões do triunfo do Mal: "E ele triunfa em muitas partes do mundo e dentro de nós mesmos, dados seu volume e intensidade, dado em especial o cansaço dos que a ele se opõem."
 
  Tivemos hoje a renúncia do presidente do Conselho Regional de Medicina do Paraná, Alexandre Blay. Ao ter que conferir a licença para os cubanos poderem exercer a medicina em seu Estado, contrariando todas as determinações de seu e de outros Conselhos acerca deste tipo de caso, e ameaçado por toda uma estrutura subserviente, que vai desde o MST - que invadiu o CRM do Ceará pela resistência deste - até um ordenamento jurídico opressivo, típico de ditaduras, que manda conceder a licença aos cubanos ao mesmo tempo que lhes nega o direito de pedir asilo político, ele capitulou. E tinha razões para tanto. Porém ao tomar tal compreensível decisão ele se põe a serviço da farsa galopante que nos atropela diariamente e vai tentando minar nossa capacidade de reação.
  Os tempos são assustadores, e a construção de uma cultura bolivariana está a todo vapor. Inteligências já começam a ser cooptadas. Temos já Ives Gandra Martins dizendo coisas estranhas sobre o julgamento do Mensalão. Já foi convertido a petista histórico. Cada um depõe suas armas como pode ou como quer. A virulência fanática da argumentação petezóide nos agride, seja a nos chamar de burgueses, fascistas, macacos; seja a nos fazer temer por nossa própria integridade física. O que se vê são blocos rígidos, graníticos. Um exército de anônimos, anulados enquanto pessoas e pensantes apenas em nome de uma causa. Quem discorda é só mais um traidor, que merece por enquanto todo o desprezo. Por enquanto...
 
  O poder desnorteador de um ato individualista - termo desvirtuado pela esquerda como sinônimo de egoísmo - sempre será imenso e eficaz. Faz aumentar exponencialmente a insegurança do Mal. Entregar a outra face, mostrar que aquilo não nos atinge e que estamos dispostos a caminhar o dobro do que estão dispostos a nos impor é a nossa estratégia. Não pegar em foices e facões para enfrentar o MST - nós não sabemos fazer isso. Apenas não consertar a porta arrombada, no aguardo de novas invasões. Venham, pois vamos continuar resistindo. Não repetir palavras de ordem, com olhos esbugalhados e lançando perdigotos, mas lendo, lendo, preparando-se para a contra argumentação embasada, fortalecendo nossas ideias e as tendo se não como ideais, pelo menos como nossas. Legitimamente nossas.
  Não precisamos de tutela nenhuma, precisamos nos colocar para que mais gente não precise. Somos capazes de escolher o que vamos ver, ler, comer, ouvir, por onde navegaremos na rede e nos mares. Queremos um governo que promova a liberdade, inclusive de errar.
  Trazer pobres coitados premidos pela mais longeva e sanguinária ditadura do ocidente e a eles conferir o status de sub-médicos, sem direito nem a ter seu salário integral, sabendo que as famílias que deixaram distantes podem sofrer sanções policiais ante à menor busca de básicos direitos humanos no país novo e querer que as entidades médicas compactuem bovinamente com isso é premissa típica do Mal.
 
  O maniqueísmo está se construindo. Eu topo. Não tenho pudor nem acho pretensão dizer que sou o Bem, e com isso chamar a todos para um mundo de igualdade. Está no discurso de Joseph Brodsky, "o Mal cria raízes quando um homem começa a pensar que é melhor que outro." E quando isso ocorre, apenas ficamos em silêncio. Ao apanharmos, que seja verbalmente, o silêncio como reação e a pronta receptividade a outra pancada "não se limitam a estimular o sentimento de culpa do inimigo - este, o Inimigo consegue aplacar, mas sim submeter suas faculdades à falta de sentido de todo o empreendimento, do mesmo modo de toda produção em massa."
 
  Mas são ações nossas que nos tornearão. Temos que escolher um caminho. O Mal não admite concessões. Não existe um semi-Mal, ou um "Mal de Centro". A ações, enfim são sempre individualistas no caso da turma do Bem.
  Diferente de como foi a ação do presidente Alexandre Blay. Esta foi uma ação individual, por vezes chamada apropriadamente de "foro íntimo".
 
  Volte à sua tribuna, Dr Alexandre. Encare a situação como extrema. Apenas mire nos olhos dos opressores, que estão de lança na mão e leões famintos do lado. Fique firme, se preciso ofertando a outra face. Seja um exemplo a ser seguido.
  E daí, quando lhe perguntarem acintosamente de sua responsabilidade naquele ato de negar as licenças (que foi antes de tudo uma ato de resistência), respire fundo mas não fale. Apenas escute-nos ao fundo, dizendo juntos, com força cada vez mais contagiante: "Eu sou Spartacus!"
 
 
 
 

 


quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Não me convidaram para esta festa pobre



"Gosto de ser gente porque a História em que me faço com outros e de cuja feiúra tomo parte, é um tempo de possibilidades, não de determinismos."

Paulo Freire

 
  O argumento é simples: quando quatro juízes, dentre os da turma, decidem pela absolvição do réu, ainda que os outros tenham decidido pela condenação, a decisão deve ser revista. Trata-se da ideia básica que ampara os chamados embargos infringentes. Estão previstos no Estatuto do STF, revisado em 1980. Houve uma lei aprovada pelo Congresso que regulamenta os recursos em Cortes Superiores, aprovada em 1990. Como foi aprovada pelo Congresso é hierarquicamente superior ao estatuto do STF. Esta lei não diz que os tais embargos podem ser usados. Mas também não diz que não podem. E está armada a quizomba.
 
Os votos de Joaquim Barbosa e Luiz Fux foram taxativos tanto ao dizer que os embargos infringentes eram descabidos, quanto ao demolir os argumentos a favor, inclusive com a tese simples de que um tribunal não precisa votar de novo o que já foi devida e exaustivamente votado. Vale a pena dar uma olhada neles, bem como no de Gilmar Mendes. Carmem Lúcia foi sóbria e Marco Aurélio esqueceu um pouco o fair play, mas vamos em frente.
  Nenhuma surpresa quanto à maioria dos outros. Os cãezinhos amestrados do petismo fizeram seu papel. Quem se lembrar da sabatina de Rosa Weber pelo senado - parodiada até pela MTV, quem se lembrar de quem era Dias Tofoli, e continua sendo; quem se lembrar do currículo "vergonha alheia" de Lewandowski e quem não se lembrar de Teori Zavascki vai se lembrar também que desde o acolhimento do Mensalão pelo Procurador Geral da República e sua condução à apreciação pelo STF já se vão seis anos. Vai se lembrar que esta chicana possibilitou a aposentadoria de Ayres Brito e Cezar Peluso, cujos votos condenatórios não deixariam a discussão dos embargos sequer começar. Nenhuma surpresa. Luís Barroso, porém, talvez o único dos indicados pelo petismo com grife, deu uma “calourada” – diz-se nas universidades que por mais que um aluno tenha passado pelo vestibular, no primeiro ano ele emburrece. Pode ser este o fenômeno que ocorreu no voto do Ministro, outrora um dos maiores constitucionalistas brasileiros, admirados por gregos e tucanos. Dias antes da posse, como lembrou Augusto Nunes, Barroso deixou claro que não via como aceitar os embargos, nem achava delicado se contrapor tão diametralmente à postura de Ayres Brito, seu antecessor. Aí no voto... bem, no voto ele “me sórta” que estava com pena das famílias dos acusados...  Coube a Marco Aurélio quebrar-lhe um ovo na testa, chamando-o de “novato”.
 
 A flagrante diferença de nível entre as argumentações contra e a favor dos embargos já dá o tom e dá esperança. Se os contrários aos embargos podem ser acusados de excesso de civismo em detrimento da lei, os que concordam podem também ser acusados de excesso de cinismo em favor da lei.
 
 Vai ficar nas mãos do decano. Celso de Mello teve uma das mais belas defesas do estado de direito e da decência em uma sociedade, nos votos em que condenara os mensaleiros. Concordo que não precisa ouvir o ronco (que ronco?) das ruas. Espero que não ouça o tilintar da máquina registradora. Celso Mello só tem que ouvir Celso de Mello.
 
  Vale lembrar que em 1971 este mesmo Supremo Tribunal Federal considerou constitucional a lei da Censura Prévia, elaborada pelo governo Médici. Ao fim daquela seção, o ministro Adauto Lucio Cardoso levantou-se, jogou sua toga no chão e se retirou do plenário. Em 1994 julgou Fernando Collor e o absolveu por falta de provas. Daquela turma do STF faziam parte Celso de Mello, que absolveu Collor (epa...) e Marco Aurélio, que se declarou impedido por ser primo do réu.
  Não se pode dizer que o Supremo perdeu o respeito em 71, tampouco em 94. Entende-se o clima beligerante do atual momento. Mas, ainda que Celso de Mello aceite os embargos infringentes e mande o julgamento para as calendas, nem assim as coisas não estarão perdidas.
 
  Em primeiro lugar, este julgamento inverteu a densidade dos argumentos. Não só entre os ministros, mas entre as pessoas comuns. Já se encontram mais leitores de Ayn Rand, de Mises, de Ortega e Gassett, de Olavo de Carvalho. Leandro Narloch, Laurentino Gomes, Demétrio Magnoli, Luis Pondé e até o Lobão são também Best Sellers, enquanto o filme do Lula foi um mico, o livro da privataria tucana não foi lido nem pelos petistas, assim como não será a biografia de José Dirceu. Os blogs contestadores são tocados por uma rapaziada bem letrada, mas ao mesmo tempo sarcástica, que esmiúça não só as táticas da esquerda como suas incoerências internas.
  Mesmo a TV a cores na taba dos índios, finalmente programada para só dizer sim – vide o mea culpa da Globo e o editorial de ontem da Folha –  são mais do mesmo.
  As novidades neste processo todo, que pode acabar promovendo os mensaleiros a presidiários ou a mortos-vivos emanadores de enxofre começam por não se ouvir pelas ruas a palavra “inocente”. Nem mesmo o petista mais emperdernido, que nos chama de fascista depois de cinco minutos de discussão vai sustentar tal disparate. Deixem que façam festa. Festa pobre de espírito, caráter e elegância. Já sabemos qual é o negócio e o nome do sócio.
  Mas somos e seremos ainda parte da cara do Brasil. E vamos mostrá-la. Num debate sereno, embasado, contestador, corajoso. Eduquemos nossos filhos, antes que um professor de história aparelhado o eduque. O trabalho é imenso, mas necessário. A história nem tampouco as instituições terminam neste julgamento. É isso que a petezada quer de nós – desânimo.
  Mas não: avante meninos da pátria! Porque esta grande pátria, desimportante, esculhambada, achincalhada e desiludida não será em nenhum instante traída por nós.


domingo, 28 de julho de 2013

Pelo menos não queimaram uma Bíblia...

  Não há porque temer uma discussão sobre religião. Este blog discute política, o que para muitos é algo indiscutível, assim como futebol. Mas nenhum dos três é questão de gosto. Gosto é que não se discute, e há um chavão mais preciso que define a questão ao considerar que cada um tem o seu gosto, mas não o reproduziremos aqui a fim de não chocar tanto.
  A visita do Papa Francisco suscitou, como nenhuma outra, manifestações anti-cristãs. Mais que isso, anti-religiosas. Na mesma medida, vimos exemplos de tolerância vindos até de ateus convictos. Pode ser que a tolerância seja um bem mais natural do ser humano, por isso é mais silenciosa. Meio como a respiração, que não faz barulho ao contrário da tosse. Daí que a intolerância, como todo sintoma de doença, pareça mais estridente e forte no começo, mas vai sendo vencida pela saudável e tácita convivência democrática entre discordantes. De maneira que o saldo, ainda que pareça pender para o outro lado, foi positivo. Não a favor necessariamente do catolicismo, mas do respeito pelas convicções alheias.
  Há uma anedota envolvendo o ex-presidente João Figueiredo. Consta que ele, já general, recebeu um militar chinês em visita. Assustou-se com o despojamento da farda do colega, sem medalhas, condecorações, estrelas, enfim, sem nada que ostentasse o alto posto hierárquico daquele senhor. Figueiredo lhe perguntou a razão de tanto desprendimento, já que seria motivo de orgulho e até de justiça vestir uma farda digna de um general. A resposta teria sido "a farda de um general chinês é assim, para ele não se esquecer de que antes de mais nada é um soldado." Francisco, ao pedir um trono de madeira, ao recusar as vestes vermelhas e douradas, ao preferir a comida das freiras à do Copacabana Palace, talvez esteja querendo nos mostrar que antes de mais nada é um padre. Num primeiro momento parece óbvia, mas é uma escolha também política. Tanto é que, a despeito da virulência das manifestações anti-clericais, a pessoa de Bergoglio parece ter sido poupada de maiores ofensas (Ratzinger chegou a ser chamado de nazista quando veio), mas tal fato se deve mais à figura pessoal do Papa que propriamente a uma guinada de nossa sociedade em direção a uma maior tolerância.
  Talvez por chegar num momento em que alguns barulhentos arrebentam agências bancárias em São Paulo para protestar contra o governador do Rio, a visita papal tenha levado em seu bojo os ventos contemporâneos desta Primavera Brasileira. Porém, a "vergonha do Várti" foi muito mais pela desorganização carioca - que poderia se dar em qualquer cidade do país - do que pela Marcha das Vadias. Uma, por assim dizer, manifestante, reproduzir uma cena d' O Exorcista e se empalar com uma cruz causa menos espécie que o lamaçal de Guaratiba.
  O que os imberbes manifestantes vestidos de ninja não compreendem, talvez por imaturos, deseducados, prepotentes ou tudo isso junto, é que o carnaval deprimente que estão produzindo não demoverá os católicos de sua crença - tampouco a fortalecerá. Nem demoverão os políticos de suas práticas, mas neste caso as fortalecerão. Suas excelências já perceberam que se trata de mais espuma que maré. E vão passear com cachorrinhos de helicóptero, colocar multidões num lugar que até ontem era um mangue, votar pelo fim do foro privilegiado para poderem ser julgados em seus currais eleitorais, submeter peregrinos do mundo todo a um assalto a cada dez minutos, enfiar o Papa num corredor de ônibus, fazer o PIB equivaler à arrecadação de impostos e tomar medidas marqueteiras para que menos pessoas morram em corredores de hospitais.
  O fato de todas estas mazelas serem recentíssimas e terem ocorrido após o início das manifestações só nos mostra que nossos governantes não são de Marte. Eles apenas são a expressão de um povo raso de idéias, de moral e de costumes.
 

quinta-feira, 18 de julho de 2013

"Mensaleiros na cadeia!"

(Escrito por inspiração das idéias do Dr. Leonardo F. Zimmerman)
 

  Jean Paul Sartre definiu o Maio de 68 na França desta forma numa entrevista dois anos depois: "Ainda estou pensando no que aconteceu, não compreendi muito bem. Não pude entender o que aqueles jovens queriam, então acompanhei como pude. Fui conversar com eles na Sorbonne, mas isso não queria dizer nada." 
  Sartre ia na frente em algumas manifestações e enfrentou a polícia. O general Charles de Gaulle, presidente francês à época, deu ordens para que não prendessem o filósofo. As manifestações uniam estudantes em greve e trabalhadores também em greve. Em uma das maiores passeatas, Daniel Cohen-Bendit, líder estudantil, organizou a distribuição dos manifestantes, e deu o clássico grito "A canalha stalinista vai para o fim do cortejo!" Foi o estopim da briga com o Partido Comunista Francês, que se retirou dos protestos, fazendo com que aquilo naturalmente evoluísse para um movimento apartidário. Ao contrário de Sartre, o presidente de Gaulle entendeu a mensagem que chegava daquele furdunço. Poderia ter convocado um plebiscito para reformar a política. Preferiu convocar eleições mesmo. Se tivessem que tirá-lo do governo, que fosse pelo voto - estadistas geralmente fazem assim. Depois chamou a Confédération Generále du Travail, a CUT deles, e concedeu aumento aos trabalhadores, terminando com a greve. Um mês depois vencia as eleições, indicando para primeiro ministro o conservador George Pompidou.

 Viajemos no tempo, dez anos antes, para a Suécia (tenham paciência comigo...). Final da Copa do Mundo entre o time da casa e o Brasil. A segunda final de nossa seleção, oito anos depois do Maracanazo, que enterrara nossa auto estima. Antes dos cinco minutos do primeiro tempo, a Suécia abre o placar. Um a zero pros caras. O time brasileiro parou atônito por alguns segundos enquanto o estádio em Estocolmo explodia em vibração. De repente todos pareceram acordar e foram correndo buscar a bola dentro do gol de Gilmar, ainda caído. No meio da correria, Didi fez um gesto brando pedindo a bola. Pegou-a e todos foram correndo para o meio do campo. Menos ele. O "Príncipe Etíope", como o chamava Nelson Rodrigues foi caminhando calmamente de cabeça erguida, conduzindo a bola com a mão espalmada, como se a levasse numa bandeja. Naquela curta caminhada até o círculo central, Didi acalmou a todos e o jogo recomeçou com os ânimos serenados. Vavá empatou três minutos depois e o resto a gente já sabe.

  Nas manifestações no Brasil de Junho último, um cartaz chamou atenção: era envergado por respeitáveis senhores de meia para terceira idade e dizia: "Os jovens de 1968 apoiam os jovens de 2013". Sartre morreu sem ter entendido o maio de 68. Esses aí do cartaz irão no mesmo caminho. E não entenderão o junho de 2013. Mas o cartaz fez sentido. Ambos foram movimentos apartidários, baseados na explosão de hormônios e na necessidade de se apanhar da polícia para justificar a própria existência. O espírito sessentaeoitista impregnou este movimento brasileiro de agora e o pôs a perder. O negócio começou a degringolar quando outro cartaz disse "Não é só pelos 20 centavos", e passou a ser por tudo. E para piorar, no governo central temos uma figura decorativa, que mal articula uma frase, à frente de um ministério mastodôntico e fisiológico. Há quem possa sentir falta de um de Gaulle. Mas falta mesmo faz um Didi.

  A atitude de sair correndo a esmo, chutando a bola pra frente para recomeçar logo o jogo, é o melhor caminho para a derrota. Já há a sensação de que tudo não passou de uma marola, um espasmo que gerou reações igualmente espasmódicas do poder central. Pode ser que fosse uma utopia vencer os suecos na casa deles. Mas só seria possível com organização, foco e uma dose saudável de serenidade em meio ao natural arrojo do esporte. Foi isso que Didi quis passar aos companheiros. É perigoso que surja um dono da bola agora, mas a atitude cabe.

  A birra com os políticos e com a política em geral não produziu um slogan. Movimento popular para dar certo no Brasil, precisa de frase pronta, que nada mais é que a expressão do que motiva as pessoas a estarem nas ruas. Foi assim com os últimos levantes de peso em nossa história recente. "Anistia ampla, geral e irrestrita", "Diretas já" e "Fora Collor". Falta alguém explicar porque em nenhuma cartolina apareceu a frase "Mensaleiros na cadeia".
  O Supremo Tribunal Federal já decidiu pela culpa dos mensaleiros. Estão todos soltos, alguns "trabalhando" no Congresso. A melhor das Reformas Políticas começará quando todos forem presos. Pode ser utopia sim. E utopia é antes de tudo crença. Talvez comecemos a entender esses protestos quando considerarmos que foram movidos justamente pela descrença.
  É legal sair às ruas, aquietar a consciência com a idéia de que se está fazendo história. Mas até para isso é necessário método. Não precisa ser nada complexo não. Em lugar nenhum do mundo houve passeata pelo voto distrital misto. Esse movimento das passeatas de junho minguou porque não fez o simples. Exultou-se o apoteótico, o barulho, a irreverência - noves fora os baderneiros - parou-se as avenidas. Mas acabou na quarta-feira de cinzas. Bradou-se contra a política tradicional e contra tudo que está aí, mas os mensaleiros foram deixados em paz.
  Bastava um slogan, repetido como um mantra. José Dirceu e sua corja na cadeia seria sim didático, revolucionário, um feito para lavar a alma de uma geração. Mas por hora vamos de reforma na saúde, que a reforma política morreu com o natimorto plebiscito.
 
  Falando em reforma da saúde, ocorreu-me outra frase para cartolina: "Muita saúva e pouca saúde, os males do Brasil são." Essa apareceu em "Macunaíma", de Mário de Andrade. Foi publicado em 1928, 40 anos antes do Maio francês. Lembrei disso agora porque minha cachorrinha está latindo mais que carro de som de sindicato. Ela sempre faz isso quando tem muita formiga no quintal.
 


domingo, 7 de julho de 2013

Manual contra açougueiros

  Não, não se trata de um manual para nos defender de vendedores de carne mal-intencionados. Trata-se de precaver a nossa população a respeito de algo que sofreremos dentro de muito pouco tempo: médicos, por assim dizer, formados em Cuba desembarcarão no Brasil aos borbotões, a fim de resolver os problemas de nossa saúde. As entidades médicas reagiram, foram contra a proposta, alegando que a proporção de médicos para cada grupo de brasileiros previamente definido chega a ultrapassar os números sugeridos pelos órgãos internacionais. Disseram que o problema da saúde na verdade está na estrutura, nas condições de trabalho e não na falta de médicos. Alguns setores da imprensa e da população reagiram nos xingando, sem razão, do que sempre xingaram com razão: "financistas", "elitistas", "reservadores de mercado", "cadê o sacerdócio?" perguntavam alguns.
  Escapa ao senso comum que, assim como todo país que se considere civilizado, o Brasil não veta a entrada de médicos. Porém, para que exerçam a profissão, é necessário que se submetam a uma revalidação do diploma obtido em outro país. Não se trata de preconceito com a medicina cubana. Os muitos ganhadores de prêmio Nobel que de lá saíram, os vários centros de tratamento que são referência mundial, os papers que se publicam direto de Havana em inglês - essa língua do imperialismo - e a formação de ponta das mais de vinte escolas de medicina de Cuba, onde os alunos tem franco e ilimitado acesso às bases de dados médicos não conferem, absolutamente, o direito de se esquivar de um exame de revalidação.
  A jogada de marketing foi interessante - imagino que os homens de marketing devam se remoer quando se associa seu ofício à arte de enganar bobos - mas se repete. Augusto Nunes bem lembrou a fixação pelo número de seis mil. Dilma já prometera seis mil creches na campanha eleitoral. Em visita ao Nordeste em maio, prometeu seis mil carros pipa. Agora vem com esses seis mil médicos.
  Dá uma certa preguiça em discorrer sobre as reais intenções acerca da vinda destes colegas. Dizem que podem ser espiões, outros falam que se tratam de treinadores de guerrilha, tem a hipótese que seriam doutrinadores da fé socialista. Realmente seria melhor que tudo isso fosse verdade, pelo menos eles não fariam tão mal à saúde do povo.
  Cuba se nega a passar por qualquer escrutínio, auditoria, ou o que quer que seja. Regimes fechados são assim mesmo. Apóiam-se em frases de efeito, precisam delas. A medicina de Cuba é defendida por dizeres que cabem numa cartolina de protesto, do tipo "80.000 crianças morrem todos os dias por doenças evitáveis, nenhuma delas é cubana." Tem criança brasileira nessa conta. Tem também (uns três ou quatro, mas tem) alguns suequinhos, japonesinhos, norte-americaninhos. Mas, vejam só, NE-NHU-MA criança cubana. Um médico formado nesta cultura totalitária, que escarnece do mundo e esconde as próprias estatísticas, é antes de tudo um propagandista, formado para cuidar da manutenção do regime, não de gente.
  Pode ser que Dilma, no fundo, pretenda importar na verdade uns 120 médicos cubanos. Pois se formos levar em consideração a porcentagem de médicos que de lá vieram e foram aprovados nos exames de revalidação - 2% - é o que sobra dos seis mil. Porque eles terão que fazer a prova, que nem a turma que vem do Canadá, da Índia, da Bolívia, de Marte, do Vietnã do Sul...
  Cuba não é uma democracia especial, é uma ditadura mesmo, sanguinária, que retira do seu cidadão os direitos de ir e vir, de livre se expressar, de chupar um chicabon e de detestar hollywood. O embargo norte-americano e a base de Guantánamo não justificam que os médicos lá formados não possam passar pelo Revalida. Mas passarão.
  Tanto é que o egrégio Centro Acadêmico Adolfo Lutz (CAAL), da Faculdade de Medicina da Unicamp propôs uma reciclagem para que os coleguinhas cubanos possam passar nas provas. Eu já fiz parte dessa instituição e disse naquela época algumas coisas que hoje julgo terem sido bobagens. Mas nenhuma delas foi sob as bênçãos de um ministério. Este Centro Acadêmico já resistiu bravamente a uma ditadura no fim dos anos 60 e agora acena como um cordeirinho ideológico para outra ditadura. Mas deixemos esses meninos. Não são levados a sério nem na Faculdade. E terão que dizer às suas crianças: "Filho, o papai lutou a favor do governo"...
  Até porque não deixa de ser boa a ideia do curso de reciclagem. Eu proporia a publicação de um manual para que a população leiga consiga, assim como nós, reconhecer já da anamnese um mau médico. Aceito sugestões para a confecção do manual, que não servirá para desmascarar um regime que aprendemos a admirar no colégio. Esse capítulo é mais complicado. O manual para açougueiros servirá apenas para defender nossa incauta população destes profissionais que exercerão esta nobre profissão sem que tivessem que prestar contas a ninguém.
  Ah, diriam muitos, mas e os açougueiros brasileiros? Verdade. No governo do PT as faculdades de medicina dobraram no país, formando médicos com qualidade por vezes sub-cubana. Mas essa questão logo será resolvida. Eu me lembro do atual ministro da Saúde bradar em uma assembleia do CAAL - quando o CAAL ainda fazia assembleias - que tal estado de coisas era uma vergonha, que não passavam de fábricas de diplomas, que eram fruto da lógica capitalista, etc, etc, etc...

segunda-feira, 17 de junho de 2013

A vaia cordial

"Já se disse, numa expressão feliz, que a contribuição brasileira para a civilização será de cordialidade: daremos ao mundo o 'homem cordial'."
Sérgio Buarque de Hollanda
Em nota a esta frase, extraída de "Raízes do Brasil", o autor presta o devido reconhecimento ao criador da expressão "homem cordial" como tendo sido o escritor Ribeiro Couto, meio século antes. E já adverte a respeito de interpretações errôneas da expressão, que não sugere um "homem polido" ou educado, ou cheio de mesuras. "Cordial" vem de "coração". Sim, somos um povo hospitaleiro, generoso, que não consegue dizer diretamente um "não", que se despede dizendo "depois te ligo!". Mas, adverte Sérgio Buarque, "seria engano pressupor que estas possam significar boas maneiras, civilidade. São antes de tudo expressões de um fundo emotivo extremamente rico e transbordante." Ressalta que um povo realmente polido, como o japonês, usa a polidez como defesa ante a uma sociedade com preceitos rígidos e naturalmente opressores. A lhaneza no trato, típica do japonês, equivaleria a "um disfarce, que permitirá a cada qual preservar intatas sua sensibilidade e suas emoções." Assim, o indivíduo conseguiria manter sua "supremacia ante o social". 
Ele continua, afirmando que "nenhum povo está tão distante desta noção ritualista da vida que o brasileiro. Nossa forma ordinária de convívio social é, no fundo, justamente o contrário da polidez." Para o "homem cordial", viver em sociedade significa fugir da apavorante responsabilidade de ter que se haver consigo mesmo, com suas obrigações, limitações, frustrações e outros "ões". Seria uma forma de nos lançarmos aos outros, para enfim nos reduzirmos, enquanto indivíduos, à nossa parcela "social, periférica, que - no brasileiro - tende a ser a que mais importa."
Eis um traço fundamental de nosso povo. Um povo que desconhece qualquer forma de convívio que não seja ditada por uma ética de fundo emotivo - até quando o que menos cabe seja a emoção. São abundantes os relatos de mercadores antigos que percebiam nos negociantes brasileiros a necessidade de fazer amigos e não clientes fiéis. O grau de confiança nas transações adviria do grau de amizade entre as partes ("confie em mim, sou seu amigo") e não de um pacto moral.
Fatalmente, estas características iriam redundar em aspectos que tanto nos dizem respeito. Temos horror ao distanciamento individual. Horror à qualquer liturgia, a começar da religiosa. Esta é a terra dos cultos sem obrigações, sem reflexões intimistas, das missas aeróbicas, das manifestações religiosas que dispensam o fiel de "todo esforço, toda diligência, toda tirania sobre si mesmo."  O afrouxamento, a humanização, a democratização dos ritos religiosos, mais exuberantes na forma que no conteúdo, "corrompeu pela base nosso sentimento religioso." Nem vamos tão longe assim: tente explicar a um italiano o que é ser um católico não-praticante.
Um povo que só aceita de bom grado "as disciplinas ditadas pela simpatia e pela concórdia" não toma fundo conhecimento de nenhuma instituição mais formalizada de sociedade, a começar pela família. Repare nas escalações das outras seleções: os jogadores ostentam seus nomes de família. Raramente isso não acontece. Já no nosso time, isso não ocorre. Sei lá, tirando o Hernanes, é tudo prenome ou apelido mesmo. Já imaginaram um "Hulk" em outra seleção? Nossos maiores ídolos no futebol respondem por seus apelidos - Pelé, Garrincha, Zico - ou por diminutivos, como os Ronaldinhos. Sérgio Buarque já apontava para estes tópicos em seu texto. E a subversão da família leva fatalmente à subversão do Estado, por vezes confundido com a própria extensão do lar. O autor é claro sobre isso: "O Estado não é uma ampliação do círculo familiar, e, ainda menos, uma integração de certos agrupamentos, de certas vontades particularistas, de que a família é o melhor exemplo." E sai-se com Sófocles para mostrar esta incompatibilidade:
"E todo aquele que, acima da pátria, coloca seu amigo, eu o terei como nulo."
Alguns milhares de pessoas xingaram Dilma Roussef na abertura da Copa das Confederações. Trata-se de uma platéia ainda pouco acostumada a lugares marcados em estádio. Estavam sim, acostumados a guardar lugares para os amigos. Estão acostumados a comprar de DVD´s piratas, a cartas de motorista, e principalmente a dizer que fazem tudo isso por culpa da crônica falta de fiscalização de governos que eles mesmo elegeram.
Nós não sabemos o que é "fair play", monsieur Blatter. Nós cavamos pênalti e achamos que ganhar roubado é mais gostoso. Xingamos a presidente da mesma forma que mostramos a língua para nossos pais. Estávamos protegidos pela turba, pela massa, pela sociedade, pela pouca noção de nós mesmos enquanto indivíduos. Não vaiamos a alta da inflação, a corrupção, o caos na saúde, a educação vergonhosa. Vaiamos a liturgia, o ritual, o respeito às instituições - porque a gente acha isso muito, muito divertido e libertador.

Xingamos a presidente porque somos cordiais.


quinta-feira, 23 de maio de 2013

É proibido permitir

"O segredo de ser chato é dizer tudo."
Voltaire
 
 
E como eu estou mesmo por conta de aporrinhar, vai aí mais outra citação. Essa no corpo do texto mesmo, até porque não dá para tirar nada desta estrofe de Zé Ramalho:
 
"Já que tudo depende de boa vontade, é de caridade que eu quero falar. Daquela esmola na cuia tremendo: ou mato, ou me rendo, é lei natural. Num muro de cal espirrado de sangue, de lama, de mangue, de rouge e batom. O tom da conversa que ouço me criva de setas, de facas, de favos de mel. É a peleja do diabo com o dono do céu."
 
O debate, seja lá de que tema for, anda pobre. Na falta de argumentos, sobram sentimentos. Quando menos se espera lá estão dois lados da questão, não "divergentes" mas "inimigos". Vira um Fla x Flu, com palavras de ordem, insultos, escárnios e a questão a ser discutida vai ficando em segundo plano. Este ponto foi bem lembrado por Nelson Motta num artigo.
 
Quando eu era residente de Psiquiatria, todos os professores, sem exceção, pregavam prudência no debate sobre a questão das drogas, notadamente no que se referia à liberação. Chegavam a dizer que esta discussão não era só nossa, que mais gente opinaria, e que, mesmo que fôssemos autoridades acadêmicas, a questão era muito complexa para que tivéssemos a última palavra. Então, se quiséssemos mesmo entrar neste debate, que fosse mais como mediadores. Eram tempos em que se admitiam matizes de cinza e não apenas preto ou branco.
 
Assisti Ronaldo Laranjeira no Roda Viva. Pelo que disseram ele faz parte da turma dos proibicionistas, que por sua vez pregam a proibição da liberação das drogas. Os que pregam a liberação da liberação seriam os liberacionistas (não confundir com "liberais" porque esse rótulo soaria como grande ofensa). A bancada de entrevistadores de Laranjeira, pelo que vi, era composta de luminares do liberacionismo, com a exceção de Mara Menezes, coordenadora do Amor Exigente. Pode ser a linha editorial do programa, mas o quase linchamento do professor da Escola Paulista de Medicina ilustra bem o tom que este debate infelizmente assumiu. Uma proposta feita por Reinaldo Azevedo seria fazerem um outro Roda Vida, desta vez com um liberacionista sendo entrevistado por proibicionistas (ele tava brincando, gente).
 
Bem, as propostas para abordagem dos dependentes químicos aí na praça têm vários méritos. A parte mais polêmica, no caso da proposta do Estado de São Paulo seria a tal "Bolsa Crack" - um cartão a ser dado para a família a fim de possibilitar o tratamento do dependente. Chama "Projeto Recomeço" e é sim, uma idéia interessante desde que sirva apenas e tão somente para um recomeço - sob o risco de se tornar um novo Bolsa Família, cujos recursos tem gente que recebe há uns dez anos mas dizem que ainda não deu para recomeçar... Mas não é dessa caridade que eu quero falar.
 
Olha só: usar drogas faz mal. Tem umas que fazem mais mal que outras, ok. Também temos o álcool e o tabaco liberados, com grande custo de vidas. Certo. Mas a cruzada para liberação das drogas soa como bandeira de utopia. Algo já datado, de um tempo em que se gritava "é proibido proibir". O que temos na dura realidade é uma total falta de condições práticas para a liberação das drogas. A propósito, o termo "descriminalização" nunca coube. Neste país nem assassino que põe fogo por conta de 30 reais vai preso, que dirá usuário de drogas. A Justiça Terapêutica, a Internação Compulsória e mesmo a Involuntária já fazem parte de nosso ordenamento jurídico faz tempo. Ademais, é consenso que a patrulha policial coíbe, sim, o uso. Mas vamos colocar a camisa de um destes dois times, e portanto debater que nem torcedor. Eu me rendo:

 
O argumento que o tráfico de drogas existe só porque elas são proibidas já dá preguiça pela presença deste "só". Há tráfico de DVD´s, de cigarros de nicotina, de uísque, de notebooks, e pelo que consta são produtos liberados. A violência do tráfico de drogas é proporcional ao lucro que ele dá. Assim, os traficantes do Morro do Borel disputam mercado com os do Complexo do Alemão a fim de ganharem mais dinheiro. O melhor jeito de fazer isso, na concepção deles, é dando tiro. Fossem as drogas liberadas, os produtores devidamente regulamentados competiriam entre si da mesma maneira com que fazem hoje os produtores de cigarros de nicotina, portanto sem tiro, é isso? E quem seriam estes produtores? A Souza Cruz? A Philip Morris? Vale dizer que são multinacionais, e teriam que se haver em outras plagas com a pecha de fabricarem drogas que no Brasil são lícitas, mas proibidas pelo resto do mundo. Já é fato consumado que a Brahma, quando encampou a Antarctica, conseguiu calar a grita da Kaiser ao fomentar no Estados Unidos que a Coca Cola fabricava cerveja no Brasil. A alternativa talvez fosse uma estatal, que poderia se chamar "Narcobrás" (essa eu ouvi do professor Artur Guerra), e pelo que se projeta iria ter um grande lucro. 
Quanto aos traficantes, imagina-se que, uma vez as drogas liberadas, ficariam sem função. Bem, quanto se espera que a Narcobrás cobre por unidade de droga? A julgar pelos impostos imbutidos nas drogas atualmente lícitas, ia sair meio caro. Basta que a turma do Alemão cobre bem mais barato (escala para isso eles têm) e lá vamos nós de novo. Ainda assim, se a Narcobrás colocasse um preço, digamos competitivo, a turma do tráfico iria fazer o quê? Prestar consultoria? Pegar busão com a carteira de trabalho no bolso para arrumar trampo de gente de bem? Os contraventores do tráfico, senhores, não escolheram o tráfico. Escolheram a contravenção. Eu sei lá o que fariam, eu não penso como traficante. Mas eu sei que algo eles fariam. O que os anima a abraçar uma vida de crime é, dentre outras muitas coisas, um Código Penal ridículo.
E os policiais corruptos, que sujam a farda de sangue e de lama? Vão continuar sujando, o que não falta neste país é oportunidade para corrupção. Eu também não sei pensar como um policial corrupto, não sei como fariam.
Diplomaticamente, então, nós estamos prontos para suportar a pressão por sermos o único país do mundo com as drogas liberadas? Tá bom, levaríamos a América do Sul de roldão (a América Latina é meio sem chance, pois o México faz fronteira com um país muito poderoso, que é totalmente contra essa conversa de liberar geral). Mas mesmo em nosso quintal... O que achará a Colômbia, que vem a duras penas expurgando o terrorismo do narcotráfico? O que achará a Argentina, principalmente ao saber da posição do Brasil? Talvez a Bolívia se empolgue...
 
E, para não perder o costume, temos o brasileiríssimo coitadismo travestido de caridade. Já estão falando em cotas de emprego para dependentes em recuperação. Em nome de uma causa pretensamente humanitária, estão nos impondo uma agenda, como uma cuia trêmula. Para os dependentes químicos graves, matar ou morrer é lei natural. Para a maioria disposta apenas a morrer, o Estado deve sim oferecer ajuda, sempre com contrapartidas. Mas a minoria disposta a matar deve ser severamente cerceada nessa disposição. Lei serve pra isso.
 
O assunto é delicado, mas não justifica o tom atual da conversa, com troca de setas e de farpas. É preciso enxergar nuances, tem muita gente morrendo.
 
E só porque propus um tom ameno, deixa dizer uma coisa: eu já faço parte de times que me dão muito trabalho. Sou católico, reacionário, palmeirense. Dos times que participo, o que mais me dá orgulho e razão de viver é o time composto por aquele que o João Miguel chama de "Papai". Esta seleta equipe já tem brigas internas pesadas demais, diárias, de maneira que não me sobra paciência para ingressar em mais nenhuma panelinha. Tudo isso para dizer, com todo respeito, que "proibicionista" é o cacête...
 
 

terça-feira, 14 de maio de 2013

Um breve tratado do cinismo

"Cínico é aquele que ao sentir cheiro de flores começa a procurar pelo velório."
 
H. L. Mencken
 
 
Zapeio pelo CQC e vejo o repórter entrevistando os deputados federais pelos corredores do congresso. Primeiro fala João Paulo Cunha, que aos berros, disse não estar ainda condenado. O repórter admite que caberia ainda recurso (não cabe não)  e João Paulo continua a vociferar que ainda não tinha sido condenado. Paulo Maluf repetiu este mantra milhares de vezes. As circunstâncias o levaram a parar, da mesma forma que levarão João Paulo a parar também. Nenhum dos dois, a rigor, estava mentindo. Estariam se dissessem que eram inocentes, mas não lhes ocorreu estropiar a verdade desta forma. João Paulo está, como Maluf esteve, sendo cínico.

O dicionário Houaiss nos ensina que o verbete "cinismo" sofreu uma "derivação por extensão de sentido", ou seja, de uma Escola Filosófica, que pregava o desapego a tudo, passou também a designar uma "atitude de descaso às convenções sociais e pela moral vigente; imprudência; desfaçatez; descaramento."

Dentre os filósofos cínicos havia como expoente um sujeito chamado Diógenes, que segundo consta, morava num barril. Mas ao contrário do Chaves, esta tinha sido uma escolha do filósofo. Consta ainda que Alexandre, o Grande um dia parou com seu cavalo diante do barril e ordenou que lhe pedisse qualquer coisa, pois era um grande admirador seu. Diógenes respondeu solenemente "Peço-vos que saia da frente do meu sol." Uma resposta cínica, nos dois sentidos.

De alguma forma nós tendemos a perdoar, ou pelo menos a relevar as pessoas cínicas. João Paulo desceu aos infernos, indo de presidente da Câmara a um dos líderes do Mensalão. O cinismo é uma expressão do seu desespero e nem deve fazer parte de sua personalidade. Os cínicos de escol em geral são sutis, são mordazes, são corajosos, são acima de tudo pessoas inteligentes. Não se vê cínicos deste quilate no cenário político atual. Na verdade o cenário atual carece de quilates, mas isso é outra história.

Continuando o programa, o repórter aborda o deputado petista Vicente Cândido e o pergunta sobre se seria bom o PT comandar o Supremo. "Seria". O repórter adverte que de certa forma isso já acontece, pois o PT indicou grande parte dos ministros, de Gilmar Mendes a Luiz Fux, passando pelo famigerado Joaquim Barbosa. A resposta do deputado Vicente Cândido: "Mas eles não seguiram a cartilha." O repórter pergunta se a cartilha seria inocentar petistas, e aí eu já estava enojado demais para lembrar da resposta de Vicente Cândido.

Consigo lembrar que não chegou a ser uma resposta cínica, até porque ele tentou se expressar em jurisdiquês. Mas responder, assim candidamente (sem trocadilho) que o Executivo petista teria que intervir no STF porque os ministros indicados não "cumpriam com a cartilha" é para início de conversa falta de decoro. A noção de totalitarismo dos petistas faz por vezes que eles se dêem a este tipo de descaramento. Nada vai acontecer amanhã, e nem dentro do próprio CQC esta declaração repercutiu - preferiram bater em João Paulo. Vão continuar os Vicentes Cândidos a tentar surrupiar do STF sua autonomia, fundamental a uma República digna deste nome, a fim de que cumpram sua cartilha.

O adjetivo que merece a resposta de Vicente Cândido não remete a nenhuma Escola Filosófica grega. Remete sim, àquele objeto que ficava na coluna lateral, na parte interna dos saudosos Fuscas, entre os bancos da frente e os de trás. Tinha forma de gota e servia para que nele entrelassássemos a mão para melhor suportar os solavancos de um veículo feito para andar no deserto.
Todos devem se lembrar dos vários nomes que o objeto tinha. Nenhum era publicável. Mas todos definiriam com perfeição não apenas a resposta, mas a postura de homem público de Vicente Candido e dessa petralhada parasita que nos assola.


sábado, 6 de abril de 2013

O senso dos cavalos

"As épocas são mais inteligentes ou menos inteligentes (...) Coube-nos por fatalidade uma das épocas mais débeis mentais e espantosas da história."
Nelson Rodrigues

A frase é de um cinismo atroz, mas o que espanta é que se mantém atual. O Brasil faz questão de se manter nestes tempos débeis mentais desde a colônia. Explicações temos aos montes, mas uma das melhores é esta fala da presidente Dilma:

“Eu queria dizer para vocês, nesta noite, aqui no Ceará, em Fortaleza e nessa escola, o compromisso forte, o compromisso que é um compromisso que eu diria o maior compromisso do meu governo. Porque é que o compromisso com a educação tem que ser o maior compromisso de um governo”.

É certo que a Presidente não tem ainda prática de falar de improviso, mesmo depois de dois anos de mandato e de um treinamento de imagem a que poucos se submeteram. Pode ser que esta prática nunca venha. Deu para entender também que seu governo tem um forte compromisso com a educação. Mas a fala beira o tatibitate, como aliás várias falas de Dilma. Se ela se expressa desta forma para nos dizer algo  que todos os nossos governantes desde Tomé de Souza já disseram, imagine como vai explicar a comédia que virou o Enem ou a total falta de projeto para o ensino público em todos os níveis. Um povo que faz as redações que faz, elege uma presidente que não passaria em concurso de oradora de formatura de ginásio.

E um povo mal-educado, inculto e embrutecido se deixa levar muito, mas muito facilmente pelo senso comum e o elege como religião, na pior acepção do termo "religião". Numa democracia, e ainda somos uma, é lícito que as pessoas tenham opiniões e que o respeitoso debate dos contrários sirva para nos engatar num processo civilizatório. Mas numa sociedade, onde por falta de educação o senso comum é lei, a democracia fica ameaçada, pois qualquer opinião fora do dito senso soa como delito. Por isso cabe aqui a expressão em inglês para senso comum - "horse sense".

Dois deputados julgados e condenados pela Suprema Corte deste país estão na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. Já é um acinte eles estarem na Câmara, ainda mais nesta Comissão. Esta Câmara é presidida por um deputado que representa o que de mais arcaico há em nossa política, e tem no Senado ao lado um presidente que é do mesmo naipe. Bem se diga que a posse de Renan Calheiros mereceu um abaixo-assinado, mas foi algo até pueril se comparado com a reação à presença de Marcos Feliciano na Comissão de Direitos Humanos.

O tal pastor disse, sim, um monte de bobagens sobre a união de homossexuais. Que se discorde dele e que se estranhe sua presença, logo na Comissão de Direitos Humanos. O que assusta é a virulência da discordância, que em nenhum momento foi sequer sugerida nos casos de Calheiros, Genoíno, João Paulo Cunha e Henrique Alves. Também é certo que todos têm pleno direito de escolher contra o que protestar. Mas ninguém protestou até hoje contra o artigo 226 da Constituição, que diz textualmente:

"Art. 226, § 3º. Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento."

Pronto, é só pressionar o Congresso para mudar este artigo. Vale sair por aí fazendo o escambau,  se beijando na boca, cantora dizendo que tem esposa. Vale até dizer que a constituição é homofóbica. Eram outros tempos e outras demandas em 1988, já estaria mesmo na hora de mudar isso. Mas não se vê nem os deputados comprometidos com a causa discutindo este artigo.

Discutir artigo constitucional é meio chato, e pode ser que apareça jurista, teólogo, enfim, gente muito preparada para avisar que o artigo não necessariamente fere o senso comum. Mais fácil sentar o porrete no pastorzinho. Ele feriu o senso dos cavalos.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Não pode, não quer, não vence

Antes que se pergunte o que se passa na cabeça de um alagoano para eleger Renan Calheiros ao senado é preciso que se pergunte o que se passa na cabeça de um paulista para eleger Tiririca. São pensamentos diferentes - se é que podem ser chamados assim - os que povoam o povo para que votem em figuras deste naipe.
Tiririca foi um voto de escárnio de uma gente mal educada, sem formação política decente, pois que para escarnecer do que quer que seja é preciso certo refinamento intelectual que nossas escolas ainda não conferem aos cidadãos. Para dizer que o Congresso é uma vergonha, tornam-no uma vergonha maior ainda com a presença de um palhaço semi-analfabeto, com todo o respeito à pessoa do Tiririca.
Calheiros foi o voto da dentadura, do compadrio, do favor para o parente, da boquinha, do "farinha pouca, meu angu primeiro".
Já se disse aqui que o Congresso é o espelho de quem o elege, e não adianta culpar o espelho se a cara é torta. Para quem está elegendo os congressistas vale primeiro seu gueto, seu interesse ou seu tosco protesto. Ter um poder republicano sólido e independente é secundário.
Quem entrega o Congresso de bandeja para a sanha do executivo somos nós os eleitores. E ficam os deputados e senadores fazendo o que qualquer um de nós faria se lá estivesse.
E o pronome é "nós" mesmo. Nessas horas fica confortável falar dos brasileiros como se fossem estrangeiros. Esta eleição de Calheiros para a presidência do senado é uma vergonha, mas sua eleição para senador também foi.
Vale corrente de abaixo-assinado, vale cobrar postura do senador em quem votou - lembrando que por muito pouco São Paulo não elegeu Netinho de Paula, vale cobrar apoio a Pedro Taques, candidato da oposição mesmo que ele vá perder feio.
E principalmente, vale não se esquecer deste episódio na próxima eleição para o Senado.
Do contrário, a chamada "Câmara Alta" vai continuar como nos tempos de Gregório de Matos (o Boca do Inferno), poeta baiano morto em 1696, que assim descrevia a Câmara Municipal de Salvador, mas que tem uma triste atualidade com nosso Senado:

"A Câmara não acode?... Não pode.
Pois não tem todo o poder?... Não quer.
É que o Governo a convence?... Não vence.

Quem haverá que tal pense,
Que uma câmara tão nobre,
Por ver-se mísera e pobre,
Não pode, não quer, não vence.
"

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

A minhoca, o anzol e o tempo novo

Quando Marcelo Crivela recebeu o ministério da Pesca como um docinho para frear as pretensões de Celso Russomano em SP, que na época ainda liderava as pesquisas, assumiu com humildade dizendo que ainda iria aprender a colocar a "minhoca no anzol". Ainda era um tempo em que as secretarias usadas como consolo ou como troca de favores serviam apenas para isso. Marta Suplicy ganhou o Ministério da Cultura para apoiar Haddad.
Mas a nomeação do ex-prefeito de Diadema, José de Filippi Jr, para secretário da Saúde causaria estranheza se ninguém conhecesse o PT. A rigor o critério principal seria afastar Carlos Neder - médico pela USP com mestrado em saúde pública pela Unicamp. Neder, na elaboração do Plano de Governo do PT, disse em suma que iria rever a função das Organizações Sociais em São Paulo, que atuam em parceria junto à prefeitura em diversas áreas da saúde.
Não se sabe por que ainda insistem em ler Programa de Governo do PT, mas teve gente que leu. E obviamente caiu de pau na possibilidade de se afastar as OS de suas funções, voltando a saúde para a gestão mastodôntica da prefeitura, com todos os vícios do funcionalismo público. A fim de dirimir mais essa mentira impressa em seu, por assim dizer, plano de governo, Haddad escanteia Neder e nomeia Filippi para secretário. Na verdade, Neder estava fora de cogitação desde a campanha, recaindo sobre Marianne Pinotti, derrotada como vice de Chalita, uma possibilidade. Milton Arruda, eminente médico da USP, que estava no ministério com Alexandre Padilha, era outro nome.

Pois muito bem. Filippi é engenheiro civil. Foi prefeito de Diadema. No seu mandato construiu um troço que se chama "Quarteirão da Saúde", um prédio imenso que concentra várias atividades no setor. Na época de seu mandato eu trabalhava em uma OS de São Paulo, com várias Unidades em bairros fronteiriços com Diadema. Era comum os diademenses forjarem endereços de São Paulo para poderem ser atendidos, uma vez que em sua cidade não tinham como.
De todo modo, parece que na gestão seguinte, do prefeito Mário Reali, a saúde em Diadema melhorou, tanto que ele não foi reeleito - a despeito do desesperado apoio de Lula.
Filippi foi também coordenador financeiro da campanha de Dilma Roussef. Ficou famosa uma carta que ele enviou a várias empresas, que começava exatamente assim:

“Em 2006. procurei sua empresa como coordenador financeiro da campanha de reeleição do presidente Lula. Naquele momento, sua empresa não aceitou o convite para contribuir com nossa campanha. De todo modo, acredito que ela tenha se beneficiado com os avanços conquistados pelo Brasil…”.

Era com essa faca no pescoço que ele angrariava fundos para a campanha...

Enfim, o triste de tudo isso é que os méritos do Secretário de Saúde nomeado é não ser quem disse bobagem no Plano de Governo. Gente boa para estes cargos o PT sempre teve.
O triste de tudo isso é que Filippi, ao contrário de Haddad, não tem vocação para poste. Uma das maiores OS da capital, a SPDM, atua em Diadema. Pode ter recebido a carta acima e se enquadrado. Porque é esse tipo de enquadramento que o PT exige, só esse.
As brechas nos contratos com as OS existem e devem ser verificadas com rigor. Isso não quer dizer que devam ser extintas. Nomear este secretário, apenas revela a disposição de Haddad para acomodar a situação e deixar tudo como está.

Projetos para a saúde? Deixa pra lá...
Porque este prefeito é, segundo o slogan da campanha, "o homem novo, para o tempo novo."