terça-feira, 1 de abril de 2014

Um bom dia para recomeçar

"Vossas Excelências tentaram passar o Primeiro de Abril com uma antecedência de 24 horas. (...) Mercê de Deus, está salva a democracia neste país!"
Doutel de Andrade
 
 
  Já passava da meia-noite do dia 31 de março de 1964 quando o deputado Doutel de Andrade, do PTB de Santa Catarina, fez um inflamado pronunciamento na tribuna da Câmara dos Deputados. Getulista e depois naturalmente janguista, ele tripudiava sobre a ameaça do golpe militar, que a rigor se deu no dia seguinte mesmo. Assim como Doutel, muitos concebiam um governo sanguinário como o de Getúlio Vargas - que matou, torturou, censurou e ceifou as liberdades mais que qualquer outro governo brasileiro, mas não admitiam outra ditadura.
  Até hoje se tem o período Vargas como redentor em nossa história, algo típico de um povo que não conhece a própria história. E tem-se a Ditadura Militar como nosso período mais negro. Ditaduras sempre são ruins, péssimas. Desnorteiam uma ou mais gerações. Minam as esperanças, bestificam um povo, mesmerizam nossas emoções. Hoje, exatos cinquenta anos depois do golpe de 64, é curioso perceber que não temos registrada a versão e razões dos vencedores - fato único numa historiografia de qualquer tempo, de qualquer nação. A história deste período, especialmente, foi e é interpretada pela dialética marxista dos perdedores. Daí o ranço revanchista que acompanha qualquer análise, revestido por isso de uma monocromática interpretação que não admite contestação sob pena de se considerar o contestador um adepto da coerção fardada.
  Por alguma razão, nas barbas da ditadura cresceram e se forjaram pela esquerda os departamentos de Ciências Humanas das grandes universidades, os quais ainda parecem viver naquela época. Cuidam de formar revolucionários com a faca ideológica nos dentes, e não de formar pensadores. Tais bases também reverteram na formação de gerações de estudantes do ensino fundamental e médio e estabeleceram convicções que fazem mal ao debate político no país.
  Sabemos quem foi Marx, Gramsci, Foucault. Não temos idéia de quem foram Mises, Hayek ou Ortega e Gasset. Stalin, Che Guevara, Mao Tse Tung e outros desta laia foram genocidas. Mas não é o que nos ensinam. Chegamos até o vestibular respondendo em provas de história aquilo que era a "verdade" para um tipo de corrente ideológica, que forneceu o caldo onde cresceu a convicção que ser de esquerda é ser legal e o resto é ditadura. Achamos que guerrilheiros como Dilma Roussef, José Dirceu e Genoíno estavam lutando pela democracia. Queriam na verdade outro totalitarismo, experimentado por frações da humanidade da forma mais cruel possível.
  Das muitas heranças que a Ditadura Militar nos legou, tenho que esta é a mais prejudicial - fora as vidas que se perderam. Esta herança formou uma geração de cidadãos pensos à esquerda, alçada à categoria de pensamento único. Determinou uma lavagem cerebral sem precedentes, que está na raiz desde a legislação que considera todo criminoso um coitadinho até as invasões de reitoria por filhinhos de papai que julgam estarem ali fazendo sua revolução.
  Os perdedores estão, enfim, no poder federal hoje. Deixarão como legado o mensalão, as pedras fundamentais inauguradas por Lula, o assistencialismo eleitoreiro levado às últimas potências, a Petrobrás em estado falimentar. Há os que seguem a corriola mesmo assim, alheios à realidade. Fecham os olhos para o ridículo da situação e se prestam cada vez mais a atos igualmente ridículos para justificar sua missão revolucionária.
 

  Este Blog sofreu um ataque da chamada MAV - Militância em Ambientes Virtuais. É um, para usar a nomenclatura deles, "coletivo" onde pessoas pagas com dinheiro público derrubam sites e blogs que não rezam por sua cartilha. É típico desta gente recrutar idiotas com cérebro lavado para intimidar opositores. Na Venezuela temos os Motoqueiros do Maduro, que matam mesmo. Tivemos os "tonton macoutes" no Haiti, altamente sanguinários. Aqui no Brasil, por enquanto, vamos de MAV mesmo.
  Por alguns dias eu não conseguia manejar o "Nova Trincheira", pois travava. Procurei gente que entende e me disseram que havia sido hackeado. Algumas mensagens ameaçadoras me fizeram parar, mais por preguiça que por medo. Neste tempo fora do ar, fiquei pensando que democracia é esta. As milícias da MAV são controladas por Franklin Martins e Gilberto Carvalho. O primeiro participou do sequestro ao embaixador americano, contado em "O que é isso, companheiro?". O segundo foi seminarista, ligado à Pastoral Operária. Gente idealista na juventude. Que cultivava o ideal de fazer valer sua vontade mesmo à custa de intimidação alheia.
  Meio século depois e a farsa se repete como farsa no Brasil. Já estamos vivendo a censura, a época das grandes obras superfaturadas com dinheiro público, a intimidação de contrários pela força.
  Este blog, que eu acreditava ser conhecido e tolerado apenas por amigos, ressurge hoje. Logo no dia em que lembramos uma parte de nossa história que preferíamos poder esquecer. Mas que nos é imposta diuturnamente na forma das mesmas práticas sub-reptícias daquele período. Não há tortura, mas há intolerância institucional. Não há "ame ou deixe-o" mas há "nunca antes neste país". Não há políticos cassados, mas há políticos comprados. Não há censura - direta - à imprensa, mas há coerção, como a que sofri.
  Enfim, os tempos são menos bicudos. Por enquanto, mercê de Deus e graças à vigilância de um contingente cada vez maior de vozes discordantes, a democracia está salva neste país. Voltemos à Trincheira para assumir nosso posto. Ao contrário de 50 anos atrás, a democracia assim nos permite.
  É um bom dia, sem dúvida, para recomeçar.


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