domingo, 2 de setembro de 2012

O Sermão do Bom Ladrão

O presidente do STF, Ayres Brito, ao condenar João Paulo Cunha lembrou a célebre frase do Padre Vieira que resume nossa colonização e explica como chegamos até aqui: "Os Governadores Gerais chegam pobres às Índias ricas e saem ricos das Índias pobres."
Este adágio foi retirado do "Sermão do Bom Ladrão", proferido em 1655, na Igreja da Misericórdia de Lisboa, perante D. João IV e sua corte. Pleno do estilo barroco e sob os ideais de São Tomás de Aquino, o sermão já advertia:

 "Não só são ladrões os que cortam bolsas, ou espreitam os que se vão banhar para lhes colher a roupa; os ladrões que mais própria e dignamente merecem este título são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos e legiões ou o governo das províncias, ou a administração das cidades, os quais já com mancha, já com forças roubam cidades e reinos."

Pondera, citando Diógenes:

"Quantas vezes se viu em Roma a enforcar o ladrão por ter roubado um carneiro, e no mesmo dia ser levado em triunfo, um cônsul, ou ditador por ter roubado uma província?"

E arremata com Sêneca:

"Se o rei de Macedônia, ou de qualquer outro, fizer o que faz o ladrão e o pirata; o ladrão, o pirata e o rei, todos têm o mesmo lugar, e merecem o mesmo nome."

Apesar da condenação de João Paulo, este julgamento ainda deve à história. Marcos Valério ainda está solto, destruindo provas ou as guardando para momentos propícios. Roberto Jefferson foi arrolado apenas como réu mesmo tendo sido a principal testemunha e Silvinho "Land Rover" Pereira devolveu o carro, prestou serviços comunitários e continuou calado. A nenhum deles foi oferecida a delação premiada, nem a Delúbio Soares - se bem que nesse caso ele lançaria uma cortina de fumaça, ladrão de carneiros que é. O grosso do esquema ficou descrito nas páginas dos jornais e no relatório da CPI dos Correios. A atuação do Ministério Público foi tímida, inclusive por aceitar que Lula não estava envolvido. Aliás, sobre este ponto, o Padre Vieira já adivinhava em seu Sermão:

"Principes tui socii rurum: os teus príncipes são companheiros dos ladrões. E por que? São companheiros dos ladrões, porque os dissimulam; são companheiros dos ladrões, porque os consentem; são companheiros dos ladrões, porque lhes dão os postos e poderes; são companheiros dos ladrões, porque talvez os defendem(...)."

De agora em diante a imprensa vendida, ou simplesmente com medo da patrulha, vai ter que tirar o "suposto" da frente para se referir ao Mensalão. Não cola mais dizer que não era pagamento mensal, nem que era para caixa dois. O Supremo Tribunal Federal aceitou a denúncia de que houve um esquema de corrupção que sangrou dinheiro público e fez políticos do partido que se arvorava paladino da ética ficarem mais ricos. Até dá para entender a linha de defesa do "todo mundo faz", mas o que está provado em autos é o esquema do PT.
Mais do que isso, o que está provado em autos é o embuste que se mostrou este partido, a enganação de quem se vendia como pleno de lisura e o que se viu foi um partido que apenas se vendia.

Que o debate se agigante. Deixe do cinismo do "todo mundo rouba" e passe a versar sobre projetos, suas execuções e pela ética. Se depois de Stálin, Pol Pot, Mao tse-Tung e Fidel; se depois da queda do Muro de Berlim o Brasil insistia ainda em considerar a "esquerda" como o único caminho respeitável, que agora pelo menos acalente alternativas.

Fica a sugestão de uma: Adam Smith, muito mais xingado que lido por aqui:

"Pouco mais é necessário para erguer um Estado, da mais primitiva barbárie até o mais alto grau de opulência, além de paz, de baixos impostos e de boa administração da justiça: todo o resto corre por conta do curso natural das coisas."







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