domingo, 7 de julho de 2013

Manual contra açougueiros

  Não, não se trata de um manual para nos defender de vendedores de carne mal-intencionados. Trata-se de precaver a nossa população a respeito de algo que sofreremos dentro de muito pouco tempo: médicos, por assim dizer, formados em Cuba desembarcarão no Brasil aos borbotões, a fim de resolver os problemas de nossa saúde. As entidades médicas reagiram, foram contra a proposta, alegando que a proporção de médicos para cada grupo de brasileiros previamente definido chega a ultrapassar os números sugeridos pelos órgãos internacionais. Disseram que o problema da saúde na verdade está na estrutura, nas condições de trabalho e não na falta de médicos. Alguns setores da imprensa e da população reagiram nos xingando, sem razão, do que sempre xingaram com razão: "financistas", "elitistas", "reservadores de mercado", "cadê o sacerdócio?" perguntavam alguns.
  Escapa ao senso comum que, assim como todo país que se considere civilizado, o Brasil não veta a entrada de médicos. Porém, para que exerçam a profissão, é necessário que se submetam a uma revalidação do diploma obtido em outro país. Não se trata de preconceito com a medicina cubana. Os muitos ganhadores de prêmio Nobel que de lá saíram, os vários centros de tratamento que são referência mundial, os papers que se publicam direto de Havana em inglês - essa língua do imperialismo - e a formação de ponta das mais de vinte escolas de medicina de Cuba, onde os alunos tem franco e ilimitado acesso às bases de dados médicos não conferem, absolutamente, o direito de se esquivar de um exame de revalidação.
  A jogada de marketing foi interessante - imagino que os homens de marketing devam se remoer quando se associa seu ofício à arte de enganar bobos - mas se repete. Augusto Nunes bem lembrou a fixação pelo número de seis mil. Dilma já prometera seis mil creches na campanha eleitoral. Em visita ao Nordeste em maio, prometeu seis mil carros pipa. Agora vem com esses seis mil médicos.
  Dá uma certa preguiça em discorrer sobre as reais intenções acerca da vinda destes colegas. Dizem que podem ser espiões, outros falam que se tratam de treinadores de guerrilha, tem a hipótese que seriam doutrinadores da fé socialista. Realmente seria melhor que tudo isso fosse verdade, pelo menos eles não fariam tão mal à saúde do povo.
  Cuba se nega a passar por qualquer escrutínio, auditoria, ou o que quer que seja. Regimes fechados são assim mesmo. Apóiam-se em frases de efeito, precisam delas. A medicina de Cuba é defendida por dizeres que cabem numa cartolina de protesto, do tipo "80.000 crianças morrem todos os dias por doenças evitáveis, nenhuma delas é cubana." Tem criança brasileira nessa conta. Tem também (uns três ou quatro, mas tem) alguns suequinhos, japonesinhos, norte-americaninhos. Mas, vejam só, NE-NHU-MA criança cubana. Um médico formado nesta cultura totalitária, que escarnece do mundo e esconde as próprias estatísticas, é antes de tudo um propagandista, formado para cuidar da manutenção do regime, não de gente.
  Pode ser que Dilma, no fundo, pretenda importar na verdade uns 120 médicos cubanos. Pois se formos levar em consideração a porcentagem de médicos que de lá vieram e foram aprovados nos exames de revalidação - 2% - é o que sobra dos seis mil. Porque eles terão que fazer a prova, que nem a turma que vem do Canadá, da Índia, da Bolívia, de Marte, do Vietnã do Sul...
  Cuba não é uma democracia especial, é uma ditadura mesmo, sanguinária, que retira do seu cidadão os direitos de ir e vir, de livre se expressar, de chupar um chicabon e de detestar hollywood. O embargo norte-americano e a base de Guantánamo não justificam que os médicos lá formados não possam passar pelo Revalida. Mas passarão.
  Tanto é que o egrégio Centro Acadêmico Adolfo Lutz (CAAL), da Faculdade de Medicina da Unicamp propôs uma reciclagem para que os coleguinhas cubanos possam passar nas provas. Eu já fiz parte dessa instituição e disse naquela época algumas coisas que hoje julgo terem sido bobagens. Mas nenhuma delas foi sob as bênçãos de um ministério. Este Centro Acadêmico já resistiu bravamente a uma ditadura no fim dos anos 60 e agora acena como um cordeirinho ideológico para outra ditadura. Mas deixemos esses meninos. Não são levados a sério nem na Faculdade. E terão que dizer às suas crianças: "Filho, o papai lutou a favor do governo"...
  Até porque não deixa de ser boa a ideia do curso de reciclagem. Eu proporia a publicação de um manual para que a população leiga consiga, assim como nós, reconhecer já da anamnese um mau médico. Aceito sugestões para a confecção do manual, que não servirá para desmascarar um regime que aprendemos a admirar no colégio. Esse capítulo é mais complicado. O manual para açougueiros servirá apenas para defender nossa incauta população destes profissionais que exercerão esta nobre profissão sem que tivessem que prestar contas a ninguém.
  Ah, diriam muitos, mas e os açougueiros brasileiros? Verdade. No governo do PT as faculdades de medicina dobraram no país, formando médicos com qualidade por vezes sub-cubana. Mas essa questão logo será resolvida. Eu me lembro do atual ministro da Saúde bradar em uma assembleia do CAAL - quando o CAAL ainda fazia assembleias - que tal estado de coisas era uma vergonha, que não passavam de fábricas de diplomas, que eram fruto da lógica capitalista, etc, etc, etc...

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