quarta-feira, 23 de maio de 2012

Chamem o Poirot!

O primeiro livro de Agatha Christie foi "O misterioso caso de Styles". Contava sobre o assassinato de uma matriarca dentro de sua própria mansão. Foi também a primeira aparição do detetive Hercule Poirot, belga tangido para a Inglaterra por conta da Primeira Guerra Mundial, em cuja época se passa o enredo. A Autora se mostrava promissora, bem como seu anti-herói. A história bem urdida com idas e vindas fixaria dali por diante um estilo característico na literatura mundial. Conta a desventura de Emily Cavendish, que se tornara viúva de seu rico marido, herdado a fortuna e após um prudente luto, envolvido-se em segundas núpcias com Alfred Inglethorp - bem mais novo que ela. Tal fato despertou o ódio dos enteados, Lawrence e John Cavendish, mas outras variáveis estavam envolvidas em seu assassinato, de resto desvendado por Poirot.

Ontem tivemos a ida de Carlinhos Cachoeira à CPI que leva seu nome. Foi ladeado por Márcio Thomaz Bastos, que parece querer a todo momento justificar as piadas mórbidas de advogado que já são parte de nosso folclore. Como Tiririca no teste de QI, Cachoeira ficou calado. Direito dele. Thomaz Bastos não foi lá para assegurar isso, mas sim para saber a linha da acusação - no que logrou êxito apenas parcial, uma vez que a sessão foi suspensa.
O motivo dessa CPI foi desviar o assunto do Mensalão e achincalhar a Veja. Parece que não vai funcionar. O novelo é mais emaranhado que parecia. Cachoeira, a despeito de ser um contraventor pesado, merecedor sim de um CPI, é a ponta do Iceberg. Ele operava para a Delta, que era de Fernando Cavendish. A Delta deveria ser o real foco das investigações. O problema é que envolve Sérgio Cabral, aquele que é nosso e nós somos teu, segundo Vacarezza.
A venda da Delta para o grupo JBS deveria merecer mais atenção. A pilantragem foi tão escancarada que deveria merecer mesmo era cadeia.
Essa CPI não vai investigar o Deltoduto, que colocaria o Valerioduto no chinelo. O que se trata de um erro estratégico de Lula e de todos que negam o Mensalão: o esquema da Delta aparenta ser maior, mais complexo e com maior efeito deletério sobre as contas públicas que o Mensalão. Daria facinho para esquecê-lo.
O problema é que este esquema pega muita gente, quase todo mundo da base aliada, chegando a respingar para perto de Dilma. Melhor não mexer com isso. O Mensalão tem os 40 ladrões definidos há tempos, mas no caso do Cachoeira pode ser que haja surpresas.

No livro de Agatha Christie, o primeiro suspeito foi Alfred Inglethorp, que teria todos os motivos para matar a esposa - ficaria com a herança. Não quero contar o final, mas a autora já usava de um estratagema que a consgararia: induzir o leitor a uma ordem de prioridades de suspeitos, de maneira a não abandoná-la até que o livro termine. Ela aproveita bem essa dificuldade que temos para mudar nossas crenças tão logo as estabeleçamos como verdade.

Está claro que Cachoeira, por mais que seja, ainda é pouca coisa. Abandonemo-lo na cela em que está para que pague pelos crimes que cometeu. Essa CPI já concluiu esta verdade e deveria mudar suas crenças. Nem deveria se chamar mais "Do Cachoeira" e sim "Da Delta"
Nós sabemos que nunca irão chamar Fernando Cavendish, um aristocrata tipicamente brazuca obviamente sem parentesco com os ingleses da ficção. E caso ele vá, irá permanecer calado. De todo modo algum estrago foi feito em favor da democracia e a Delta está perdendo contratos.
Mas, num delírio de imaginação, se Poirot fosse membro da CPI, como seria o diálogo entre ele e Thomaz Bastos?
Poirot iria perder feio. Nem Agatha Christie, com sua sórdida imaginação teria capacidade para criar um personagem como o ex-ministro da justiça.

Um comentário: