sábado, 6 de novembro de 2010

A empáfia de antes e o Marquês de Abrantes

A melhor parte do discurso de Lula hoje, para os formandos do Instituto Rio Branco foi dizer que o Brasil é o celeiro do mundo. Não pelo ufanismo, mas pelo reconhecimento ao Agronegócio. Porém, de resto, foi um desando só. Nem dá para perder tempo desmentindo tudo - ele disse, por exemplo que não indicou políticos para embaixadas. Deve considerar Itamar Franco, indicado para as embaixadas da Itália e depois Portugal, um diplomata.
Mas uma frase que podemos pinçar é bem ilustrativa: "Vai ser difícil a imprensa reconhecer que (Celso) Amorim foi o mais importante ministro das Relações Exteriores."
Nosso presidente lida mal com quem discorda dele. Vai querer voltar com a história do controle da Imprensa, e desta vez porque não reconheceram que Amorim, pelo menos como Chanceler, foi o cara.

Lula se esqueceu de onde estava. O Instituto em questão leva o nome do Barão do Rio Branco, que ocupou o mesmo cargo de Amorim, também ocupado por gente como José Bonifácio, Quintino Bocaiuva, San Tiago Dantas e Afonso Arinos. Oswaldo Aranha, quando Ministro, chefiou a delegação brasileira na primeira Assembléia Geral da ONU. Foi o primeiro a discursar, e, por conta disso a Assembléia é aberta pelo Brasil até hoje. Mas, segundo Lula, Celso Amorim foi maior que eles.

Deixando de lado estes nomes mais famosos, Lula deveria conhecer a história de Miguel Calmon du Pin de Almeida, o Marquês de Abrantes, um dos muitos Ministros das Relações Exteriores do Segundo Reinado. Foi ele o responsável pela condução da Questão Christie, que resumidamente, foi uma quizila entre o Brasil e a Inglaterra, a partir de uma confusão que marinheiros ingleses aprontaram no Rio. Pouco antes disso, uma carga de um navio inglês fora roubada no Rio Grande do Sul. Tendo recebido o pedido de entregar os ditos marujos arruaceiros à polícia brasileira, o embaixador britânico, William Christie, não só se recusou, como também exigiu um pedido formal de desculpas, além da indenização pela carga roubada no sul. Ameaçou chamar a Marinha Real Inglesa para bloquear a Baía de Guanabara, caso não fosse atendido. O governo brasileiro respondeu que estava pronto para a guerra.
O episódio terminou com a mediação do rei da Bélgica, tendo participação decisiva do Marquês de Abrantes.
Tudo isso se deu em 1863 e seria saudável que Lula soubesse. Talvez ficasse decepcionado ao saber que não foi em seu governo que o Brasil começou a 'peitar os grandes'.

Sem exagero, a melhor ação de Amorim como ministro foi ocupar o cargo durante todo mandato de Lula e assim impedir que Marco Antônio Garcia o ocupasse. Celso Amorim também mentiu em seu currículo, inventando um título de doutorado. Isso costuma dar sorte para os ministros de Lula.

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