quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Eu regi um coral para o Palocci

Corria o ano de 1992. Eu morava em Ribeirão Preto, fazia cursinho pré-vestibular. Tinha uma turma de amigos dada às artes, como acontece com muitas turmas de amigos adolescentes mundo afora. Pois que esta turma se congregava também em um grupo de teatro. Nossos múltiplos talentos alcançavam também a música, a literatura e as artes plásticas. Em meados daquele ano fomos contaminados pela candidatura de Antonio Palocci, do PT, a prefeito. Trazia como candidato a vice Joaquim Rezende, do recém-fundado PSDB - naquele tempo considerávamos os dois partidos como matizes de um mesmo cinza. Ou vermelho, como queiram.
O slogan nos adesivos me trazia a memória das Minas, "Nada será como antes". Em tempos pré-valerioduto o caixa de campanha era composto de forma mambembe, sem grandes esquemas, um caixinha-dois aqui e ali. O irmão de um de meus amigos foi o autor do gingle, que trazia versos como "Palocci pelos nossos sonhos". Ele nos convidou para apresentarmos uma esquete em um barzinho da moda, descolado, da época, como parte de um show para arrecadar fundos.
Estávamos ensaiando "O homem e o cavalo", de Oswald de Andrade, e a abertura era um coral. Transpusemos a cena para a esquete, adaptando-a, desta vez cantando o gingle de campanha. Eu fazia o papel do maestro. Foi muito divertido, engraçadíssimo.
Na minha lógica, eu achava estar participando de um grande momento. E estava mesmo. Sabia que ali era uma chance de tomar outro rumo na política, que ali nascia uma carreira que tinha tudo para ir adiante, carreando nossos sonhos, fazendo tudo ser diferente do que era antes.
Quando Palocci assumiu o Ministério da Fazenda fiquei feliz, e se ainda fosse adolescente teria me considerado co-responsável por aquela ascensão.
Mas aí veio o escândalo do caseiro, as denúncias de tráfico de influência, as maracutaias em Ribeirão, quando prefeito. Eu já homem feito, me senti responsável. E meio otário, de ter votado em alguém em nome de meus sonhos.
Hoje o STF absolveu Palocci de seu último processo. A Justiça finalmente o perdoou.
Mas eu não.

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